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Foto: Estado de S. Paulo |
O Brasil possível e o direito
de roubar assegurado em lei
Vivemos, política
e socialmente, um país que pode ser chamado de o Brasil possível. Ou seja:
chega-se somente até um certo ponto, não mais – além daquele há um interdito histórico em nosso
DNA social que diz: não tente mudar privilégios, alterar escalas de valores, insubordinar-se
às injustiças, ofender os sagrados princípios da imoralidade instituída e histórica
de castas intocáveis.
O exemplo
deu-se na noite/madrugada que antecede a redação deste texto. Acompanhei a
votação até onde pude, mas fui vencido pelo cansaço.
Antevia,
porém, o que as redes sociais e os jornais online já informaram: após mais de
sete horas de sessão a Câmara dos Deputados aprovou diversas modificações ao
texto que saiu da comissão especial.
Foi incluída
punição de juízes e membros do Ministério Público por abuso de autoridade e rejeitada
proposta que previa acordos de leniência (espécie de delação premiada em que
empresas reconhecem crimes em troca de redução de punição) celebrados pelo
Ministério Público.
Pior: retiraram
trecho que tornava crime o enriquecimento ilícito de funcionários públicos e
previa o confisco dos bens relacionados ao crime.
Mais
claro que isso impossível: está garantido o enriquecimento ilícito de funcionários.
Por consequência o que é garantido é incentivado. Mais claramente: pode roubar,
que tudo bem.
A criminalização do caixa dois, todavia, foi
mantida. Assim, quem praticou o crime em eleições passadas pode ser punido
retroativamente.
Ao final,
das dez medidas anticorrupção, acabaram ficando: medidas de transparência a
serem adotadas por tribunais; a criminalização do caixa dois; o agravamento de
penas para corrupção e a limitação do uso de recursos com o fim de atrasar
processos.
Esse é o Brasil
possível a que referi. E com ele teremos de conviver, ao tempo mesmo em que
devemos buscar a formação de uma sociedade civil atuante, firme, incisiva e
norteada por valores democráticos e que atendam a valores humanistas.
...............
Armaram e se deram bem
Quando
Temer chamou a imprensa domingo último para manifestar, ao lado de Rodrigo Maia
e Renan Calheiros pretensa repulsa à descriminalização ao caixa dois fez jogada
de mestre. Ou seja: assumiu perante a nação unicamente aquele compromisso; nada
mais, percebeu?
Disse na ocasião
que caso o caixa dois fosse liberado ele vetaria. Mesmo sabendo que depois o
veto poderia ser derrubado pelos deputados e ele desmoralizado. Mas, ante a opinião
pública foi feita a aposta de seriedade presidencial e, midiaticamente, armada
a jogada do espetáculo político.
Claro que
Temer sabia das maquinações que afinal foram aprovadas; óbvio que tinha
conhecimento de que o pretenso repúdio ao caixa dois seria o óbolo a ser pago à
opinião pública.
A grande pergunta
agora é: ele vetará as medidas imorais aprovadas pelos deputados? Se chamado à
liça poderá dizer que somente tinha compromisso contra o caixa dois, e pronto.
A resposta
é: não, não vetará as mudanças feitas pelos deputados ao projeto de lei
anticorrupção. Não terá disposição para isso nem vai contrariar os interesses daqueles com quem mantém concertos.
E se o fizer, se viesse a fazê-lo, sofreria derrocada tão humilhante que melhor seria a renúncia.
Os deputados, em caso de veto, reagiriam com virulência típica e passariam por cima de Temer e mantendo o que fora decidido ao longo da noite/madrugada.
Os políticos querem se livrar de problemas. Mais problemas. Muitos estão enredados no cipoal da Lava Jato e apavoram-se com o que vem por aí: a denunciação do fim do mundo: as acusações da turma da Odebrechet melando muita gente. Até mesmo o velho PSDB, tão poupado por uma certa imprensa deve ser engolfado.
E se o fizer, se viesse a fazê-lo, sofreria derrocada tão humilhante que melhor seria a renúncia.
Os deputados, em caso de veto, reagiriam com virulência típica e passariam por cima de Temer e mantendo o que fora decidido ao longo da noite/madrugada.
Os políticos querem se livrar de problemas. Mais problemas. Muitos estão enredados no cipoal da Lava Jato e apavoram-se com o que vem por aí: a denunciação do fim do mundo: as acusações da turma da Odebrechet melando muita gente. Até mesmo o velho PSDB, tão poupado por uma certa imprensa deve ser engolfado.
Mas essa
é outra história, coisa para outra coluna. Vejamos os próximos passos.
Cambaleantes, mas decididos a fazer o Brasil cada vez pior para quem trabalha e
sustenta as castas de privilegiados.
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