É muito
feia a
cara do
governo
A
coletiva de Temer neste domingo, convocada às pressas como tentativa de criar
uma agenda positiva para seu – vá lá! – governo, foi um espetáculo patético,
roçando o grotesco. Ante uma plateia de jornalistas, que incluiu representantes
de jornais do exterior, Temer deu desculpas esfarrapadas para o caso Geddel
Vieira.
Justificativas tão ordinárias que
fariam a vergonha e a desonra jurídica até mesmo do mais medíocre estudante de
direito.
A saber: não existiu, e Temer
sabe disso, conflito interministerial envolvendo a Secretaria de Governo e o Ministério
da Cultura, como afirmou o inquilino do Palácio do Planalto: houve unicamente
tentativa de solucionar assunto pessoal de Geddel – o tal apartamento em
Salvador – enquanto ele, o presidente, funcionou como um corretor de segunda
linha junto ao Ministério da Cultura.
Além disso, acossado pelo escândalo tramado em
favor da anistia ao caixa dois, teria nas mãos uma cartada de baralho político
sem qualquer chance de blefe: como justificar, aprovada a anistia, que esta
seria aceitável?
E o jeito foi plantar outro
blefe: o de que ele era contra a tal anistia. E fez isso com o espalhafato de
uma coletiva convocada num domingo. Queria se livrar de dois problemas em uma
só mão, ao lado de outros dois jogadores veteranos: o presidente do senado, Renan
Calheiros, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Na verdade, o objetivo era ganhar
as manchetes ou pelo menos algum espaço nas primeiras páginas e estimular as
redes sociais com um suposto estardalhaço: “Temer é contra o caixa dois!”
Os jornais até que tentaram
ajudar: mas suponho que a opinião pública, em seus diversos segmentos, acolheu
com um misto de indiferença e desconfiança as palavras de Temer; que tem agora
a angustiosa missão de encontrar alguém para substituir Geddel.
Mas o escolhido não pode estar na mira da
Lava Jato ou metido com algum outro cipoal do crime.
Mas, no geral é isso: a priori
não há como reverter a situação da má imagem do governo. Até porque a imagem é muito feia.
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Laerte/Folha de S. Paulo |
Temer e o dilema de Cazuza
Nos seis meses de governo caíram
seis ministros. Foram eles: Romero Jucá, Fabiano Silveira, Henrique
Eduardo Alves, Fábio Medina Osório, Marcelo Calero, Geddel Vieira Lima. Daria a média de um ministro expelido a cada quarenta dias.
Cinco sob acusações de corrupção,
tendo como única exceção Marcelo Calero, denunciante do esquema de Geddel Vieira
Lima.
A conclusão que se tira é de um
governo que é feito essencialmente por pessoas com envolvimento com a lei, no
pior sentido que isso queira dizer.
A respeito, é exemplar a charge do
cartunista Laerte, da Folha, que exibe reunião ministerial em que todos os
participantes estão usando tornozeleiras eletrônicas. Até mesmo quem está à cabeceira
da mesa...
Quer dizer: temos um governo bichado, para
usar o jargão do futebol.
Assim, como podem esses tipos propor medidas de
suposta austeridade quando são useiros e vezeiros dos bens públicos, estão
envolvidos em crimes que têm como objeto o desvio de dinheiro em benefício próprio?
E desvios que chegam a bilhões. Bilhões
que estão faltando em hospitais, escolas, segurança pública e manutenção de estradas,
só para ficar no mais óbvio.
Objetivamente: o governo é fruto
de um esquema bem urdido de setores das elites, grande imprensa e políticos de
méritos no mínimo duvidosos. De tais pessoas não de poderia esperar algo de
bom.
De tal caldo de cultura – sim,
pois essa prática é reiterada e naturalizada historicamente nos esquemas de poder – somente poderia
brotar o governo Temer: fraco, claudicante, incerto, errático, quase vivendo para o dia de amanhã.
Prova disso: o atual supremo mandatário
da nação está a tal ponto encharcado de tal situação que sequer tem respeito por si próprio:
tem como seu chanceler o senador José
Serra, que integra o PSDB partido que pede a sua cassação. Como na música de Cazuza, Temer busca amparo no peito de seus traidores.
A Folha de hoje relembra: “Derrotados
no segundo turno, o PSDB e seus aliados entraram com três ações de impugnação
da chapa Dilma/Temer por abuso de poder político e econômico nas eleições. Nas ações
requerem a posse dos senadores tucanos Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes (SP)
como presidente e vice.”
Ainda sobre o jornal paulista,
hoje o mais influente do país, diga-se que a manchete não foi a patética
entrevista de ontem, mas a informação de que Temer e Dilma estavam no mesmo
barco.
Diz o jornal no principal título
da primeira página: “Campanha de Dilma pagou despesas de Temer em 2014.” Ou seja: o que valeu para uma vale para o outro. E quem acusa é exatamente o PSDB...
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AL CAPARRA, O
GANGSTER CHIC
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