sábado, 13 de agosto de 2011

O tempo de Aluízio Alves
--- Walter Medeiros* –  
Walter Medeiros
A exatidão do tempo que corre por nossa vida ou a exatidão da nossa vida pelo tempo, que é eterno, maior e fugaz, permite a cada humano apenas o seu pequeno quinhão. Embora os registros, as tecnologias e tantos outros recursos nos proporcionem conhecimento até da antiguidade, da pré-história, bem como também até mesmo imaginar, com proximidade, o futuro. 

Essas divagações e reflexões vêm para mostrar que, apesar de cabelos brancos pela cabeça, vivi - mas não tinha ainda como participar tanto - o tempo de Aluízio Alves no Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Quando ele saiu do governo eu tinha 12 anos; o que não seria problema para ele, que com essa idade já estava nos salões da política.

Havia, no entanto, um envolvimento forte, que tornou aquele tempo marcante para mim. Meu avô, Francisco Bezerra, minha avó, Constância Constantina e minha tia Mariêta Freitas, eram da Cruzada da Esperança. Na sala de trabalho do meu avô tinha o retrato de Aluízio Alves, colocado desde a campanha de 60. Nos rádios ouvia-se o Falando Francamente todos os dias, naquela voz forte e convincente de Erivan França. Foi quanto meu irmão, Wellington Medeiros passou a trabalhar na Rádio Cabugi, então na Praça Pedro II. E o tempo passou, até assistirmos o radicalismo nas vozes de Magnus Kelly, Carvalho Neto e Eugênio Netto. 

Guardava desse tempo o disco em 78 rotações - “Aluízio Alves/Veio do sertão lá do Cabugi...”, que minha tia pediu para preservar e depois de muito tempo e reflexão considerei mais apropriado doar ao Memorial Aluízio Alves. Não consegui guardar, no entanto, aquela bolsa verde com a mão de Aluízio, na qual guardava e conduzia meu material escolar para estudar no Grupo Escolar Áurea Barros, em Tirol (1963). Nem aquelas caixas de leite da Aliança para o Progresso, que consumíamos, gostávamos e findavam servindo para brincar pelas caçadas da rua Alberto Maranhão. Muito menos aquele sabre com o qual um soldado me conteve na manhã de 1º de abril de 1964, mandando de volta para casa o menino que apenas queria comprar pão na Padaria São Paulo.
Dali em diante tivemos campanhas políticas limitadas em sua participação. Depois da década de 60 Aluízio Alves, Agnelo Alves, Garibaldi Alves, Erivan França e outros  estavam proibidos de falar em manifestações populares, cassados pelo AI-5 (Ato Institucional nº 5). O regime autoritário cortou o grito do povo, que nas ruas dizia, e eu ouvia: “Queremos Aluízio em 70”. Neste momento em que se homenageia Aluízio na sua data de nascimento, deixo aqui estas lembranças daquele tempo cujo curso foi mudado pela força. A presença de Aluízio Alves em momentos posteriores é outra história, que o tempo também guardou.
*Jornalista

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