quarta-feira, 2 de março de 2011

A Liberdade nasce na boca do canhão

Os lábios dos líbios estão trêmulos de um certo ardor de liberdade, mesmo que não saibam o que virá depois. Revoluções, insurgências, quedas de ditadores não asseguram que será melhor o dia seguinte, que na história é muito longo, dura anos, muitos anos. Mas acreditam, os líbios acreditam e estão certos, de que o quadro atual não pode mais se manter, mantendo todo um povo em sucumbência. 

A capa do jornal francês dá bem uma ideia do clima áspero e doloroso. O texto visual, a força da foto traz em si toda a síntese da tragédia. O parto da história se fazendo em meio ao fogo.  "Somos nós quem libertará Trípoli" grita a manchete encaixada na imagem indicando que agora não tem volta. Estranhamente, o horror traz em sua alma aquilo a que chamamos de Liberdade. E o canhão faz o seu chamado: Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós.
O cenário é desolador: morte e clamores rondam as ruas como fantasmas que assombram, mãos dadas com os medos que percorrem corações e mentes. Ao lados dos que lutam há os que fogem, não suportando, não tendo forças e coragem para o embate. O desenho da tragédia começa a ganhar traços fortes e escuros, indicando que forças não líbias podem interferir na luta. Uso esse eufemismo para dizer que os EUA estão prontos para desembarcar os marines. Kadaffi já ameaçou: isso acontecendo, rios de sangue, mais intensos e tensos desaguarão no caudal dos sofrimentos.

A geopolítica no norte da África, caso haja a intervenção americana, ficará mais complicada na era pós-Kadaffi. O ideal seria que a revolta triunfasse sem ajuda estrangeira, pois será um problema a mais administrar a presença de forças militares que estarão representando os interesses políticos e econômicos americanos. 

A história dá seus passos. A luta na Líbia terá repercussões que começarão a ser medidas depois do último disparo.

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