quarta-feira, 2 de março de 2011

Deu no Observatório da Imprensa:

EXPLOSÃO ÁRABE
Por trás das revoluções
Por Luís Olímpio Ferraz Melo em 22/2/2011
É preciso ultrapassar o campo da sociologia e o da ciência política para compreender o que acontece neste momento no Oriente Médio, pois há evidência de orquestração nesses movimentos ditos revolucionários. Não é sábio acreditar que, de uma hora para outra, os egípcios se deram conta que Hosni Mubarak estava há três décadas no poder e que deveria cair para ser implantada a tão sonhada democracia. Esses regimes governamentais imperialistas fazem parte da cultura do mundo árabe e há outro item que merece reflexão: a religião tem mais poder do que o governo constituído. Ou seja, independente do regime de governo, é a religião que sempre tem a última palavra. O termo mais apropriado para classificar esses movimentos no Oriente Médio seria revolta, e não revolução, como sugerem os meios de comunicação. A maioria dessas pessoas que estão se "revoltando" contra os seus vetustos governantes nem sabe ao certo a razão do conflito e pode, sim, estar sendo manipulada por interesses obscuros.

Os conflitos – ou revoltas – estão se espalhando e colocando o Oriente Médio no centro das atenções do mundo e não se pode prever como terminarão esses eventos. O discurso de todos os líderes desses movimentos é bastante conhecido e sedutor: a liberdade. Mas é intrigante, somente agora, perceberem que a liberdade – no sentido amplo da palavra – é a melhor coisa que possa existir numa sociedade.

Articulação obscuraPor ocasião da "revolta" no Nepal, em que os nepaleses queriam derrubar a secular monarquia, perguntei a alguns nativos "revoltados" a razão daquele movimento. A resposta era lacônica: liberdade. No Tibete, procurei uma explicação oficial para a invasão chinesa na Revolução Cultural, em 1950, em que foram assassinados um milhão e duzentos mil inocentes e inofensivos tibetanos e a resposta confunde mais do que explica: foi para libertar o Tibete dos tibetanos (?).

A rainha das Revoluções – a Francesa – fornece-nos elementos para a compreensão de como são arquitetados esses movimentos, pois a franco-maçonaria era que estava por trás da Revolução e a sua bandeira era a tão almejada liberdade de expressão e o fim da religião. O leitor não se espante em saber que Montesquieu, Kant, Rousseau, Voltaire, Karl Marx e outros tantos famosos eram maçons e usavam a sociedade secreta maçônica para articular a derrubada de governos autoritários, sugerindo desejar a construção de um governo único.

Curiosamente, Hegel e Marx diziam que a história sempre se repete, sugerindo que possa existir uma articulação obscura por trás de todas essas "revoltas" no Oriente Médio sem que nem os "revoltados" saibam da teleologia desse movimento...

Um comentário:

Fagner França disse...

De fato, essa Primavera dos Povos árabes ainda merece uma análise mais aprofundada, que só poderá acontecer com a calma que o distanciamento histórico proporciona. Esse aspecto indicado no texto acima certamente necessita de um estudo mais cuidadoso, tão mais difícil quanto não possui um nexo causal direto com a revolta, mas representa um dos vetores da velha síntese das múltiplas determinações.