domingo, 20 de agosto de 2006

Matou um filho, matou o outro, matou o outro; depois suicidou-se

"O Senhor me deu,
o Senhor me tirou:
bendito seja o Senhor."
Do Livro de Jó

Desesperado, falido, um empresário matou a tiros, em Alphaville, um condomínio de alto luxo em São Paulo, os três filhos, suicidando-se em seguida. Sem contato com o ex-marido há dias, a costureira Maria de Fátima Diogo foi até o apartamento em companhia de um chaveiro e da polícia. Ao abrir a porta deparou-se, cara a cara, com a dor em forma de morte, num grito em corpo de angústia. Desmaiou. Foi aparada por uma amiga e pelos policiais, que a levaram a um hospital. Nada restou da antiga felicidade.

A notícia está no O Estado de S. Paulo. Contada assim, na frieza da técnica jornalística, a tragédia passa por você como uma paisagem qualquer, das muitas paisagens que habitam o território dos jornais.

Mas, dê-se ao trabalho de imaginar um pouco, percorrer sem pressa o caminho do horror. Uma família rica, um empresário de sucesso, tudo certo, tudo acima do normal, uma vida familiar como poucos têm neste País. Indo um pouco além dos aspectos econômicos e chegando ao plano mais existencial, temos pessoas que tinham à sua disposição, literalmente, o prazer, o prazer de estarem vivas.

Mas vêm os tempos da tarde, quando a noite da derrota se aproxima e de repente tudo se desfaz, a família se racha, o pai perde tudo, dopa os filhos com Lorax e depois, na furiosa calma dos que estão perdidos, mata, um a um, os filhos. Depois, vira a arma contra si e dispara. Pronto. Terminou ali todo um processo de vida, uma multidão de sonhos desabou, pessoas morreram, lágrimas estão regando o drama.

E, em algum canto, guardado em alguma gaveta da polícia técnica, o revólver dos crimes está parado, como a cobra descansa, até que um dia alguém a faça disparar o seu veneno de morte.



Um comentário:

Anônimo disse...

caramba eu vi essa matéria e fiquei chocada com a frieza desse pai que matou seus filhos pelo desespero de uma vida endividada...porém muitas pessoas devem ter passado por esta noticia com a rapidez da modernidade, incapazes de imaginar a dor dessa mãe que perdeu de uma vez só, os seus três filhos, enfim, infelizmente, são coisas do cotidiano que ainda chocam, mas parecem estar se tornando banais.