sábado, 22 de abril de 2006

A espera

"É preciso emprestar-se aos
outros e dar-se a si mesmo."
Montaigne

Esperar é como um exercício, só que parado. A espera, para quem adestrou-se internamente, é uma forma de combate. A espera é prima-irmã do tempo; compreende seus atrasos, demoras, percalços, desvios de última hora. A espera é uma forma de severidade que não pune quem a sabe administrar. A espera pode até ser exultante, se você contém com mestria o impulso de arco que está dentro de você.

Diferente da resignação, que é também uma forma de coragem, quando você percebe e acata o inevitável e não se abate, a espera pode se transformar em angústia, quando o guerreiro deixa de esperar confiantemente.

A espera não se desilude, não sucumbe ao tédio, não se dobra ao aparente vazio do momento que pára; a espera é uma forma de dinâmica que o homem pode aprender com as estátuas, estas em seu eterno movimento congelado no ar.

A espera, no instante preciso, saberá dar vôo ao sentimento contido e, logo depois, estará caminhando ao lado da liberdade. A espera é um abraço que você guarda cuidadosamente para a mulher que é sua: imóvel enquanto não é dado, mas poderoso quando toca seu corpo de estátua.

Um comentário:

Anônimo disse...

Emanoel, que texto lindo! O ser humano vive constantemente , ou melhor dizendo, eternamente à espera: de um um "abraço amigo"; de uma "palavra serena"; de uma "sonhada promoção"; de um "beijo desejado" ou de um "amor" que se foi. Aí, fica a esperança: até um dia...até quem sabe... até talvez...