quinta-feira, 20 de abril de 2006

Tempos velhos, fotos antigas

"De súbito sabemos que é já tarde.
Quando a luz se faz outra, quando os ramos da árvore que somos soltam folhas
e o sangue que tínhamos não arde como ardia, sabemos que viemos e que vamos.
Que não será aqui a nossa festa."

Paulo Geraldo

Gosto de olhar fotografias velhas. Observar as expressões, os olhares, os gestos captados e imobilizados pela câmera. E de imaginar o que se seguiu após aquela foto, o que aquelas pessoas foram fazer, quais os destinos que cumpriram, quantas tiveram a vida revirada em tragédia, quantas alcançaram seus planos, quantas apenas viveram o tédio diário e mudo, quantas...

Olhar fotos velhas em paredes, em revistas muito antigas, em painéis que às vezes encontro, é para mim como uma viagem no tempo. No tempo envelhecido e gravado no papel. Observando as fotos muito antigas entendo: estou olhando para fantasmas, quem sabe fantasmas gentis, almas cordiais que jamais assombrarão nem casarões abandonados ou aguardarão as pessoas em ruas escuras.

Olho para fantasmas e percebo, quando olho em volta, que também, de alguma maneira, estou cercado de fantasmas, que cumprem o mesmo destino daqueles que estão naquelas fotos. Todos podem ser fotografados e, sem perceber, daqui a cem anos, serão apenas vultos impressos na fotografia.

Olho então para esses fantasmas e percebo então que também sou um fantasma. Quem sabe, nesse momento, alguém esteja fazendo a minha foto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Emanoel, a característica dese texto é fundamentalmente de lembranças saudosas para mim... Sabe como gosto de fotos ? Vê-las logo após o evento; observá-las, criticá-las e doá-las a quem de mais perto pertencer. Aí volto a bater novas fotos, para que novamente fiquem os tempos velhos, nas fotos antigas. É um ciclo...
Muito bem elaborado! zilda