Nós, pobres animais de Deus
Por Emanoel Barreto
O poeta potiguar Luís Carlos Guimarães definia os seres humanos como “ nós, pobres animais de Deus”. Não era apenas uma assertiva certeira e perfeita, frase de efeito ou tirada genial em meio a um bate-papo regado a cerveja, mas um belo verso de poema cujo título não recordo.
É isso mesmo o que somos: animais que pastejam pelas ruas, ruminam sonhos, mendigam empregos, buscam horizontes artificiais para correr em busca de suas crenças, inventam santos e demônios, festejam alegrias, guardam rancor ou expressam gratidão e amor – ou o inverso, o que é mais comum.
Isso para citar apenas algumas das nossas facetas, que são muitas, extensas e misturadas em um emaranhado complexo e infinito de fatos e ações, todos largos e sem fim como sem fim são as múltiplas consequências de nossos gestos e atos para o bem ou para o mal – às vezes, para as duas coisas ao mesmo tempo.
As grandes vitórias, os impérios financeiros, as gigantescas corporações, o barraco do miserável, o magnata e o desvalido; tudo isso terá fim com a morte de um e de outro, do potentado e do indigente: são a essência, o trabalho e a consequência de sermos pobres animais de Deus.
E depois virão novamente as grandes vitórias, os impérios financeiros, as gigantescas corporações, o barraco do miserável, o magnata e o desvalido; tudo isso terá fim com a morte de um e de outro, do potentado e do indigente: são a essência, o trabalho e a consequência de sermos pobres animais de Deus.
Somos, ao passar do tempo, como o bicho que busca arrancar da terra a grama que o alimentará. A vaca faz isso todos os dias sem consciência do ato em si. Ela o faz e pronto. Vive a calma, a indolência modorrenta de sua eterna e transitória existência. Nós fazemos a mesma coisa, só que em outro nível de inconsciência e n aturalização.
Lutamos todos os dias, seja num emprego mal remunerado ou atrás do birô do milionário, obedecemos ao chefete atrevido ou somos o próprio, e tememos o ataque do bandido de rua: diante disso a condição humana nos obriga a ter algo de nosso, queremos garantias, defesas.
Como nossa fragilidade não nos permite arrancar grama do chão com a boca precisamos de um prato, de um teto, remédios e amparo na velhice.
Ao final, como a vaca, buscamos de forma inconsciente o que seja necessário e nos proteja. Ela precisa de grama, nós tentamos enganar nossa miserável condição humana com almoços e confraternizações.
Tudo vale a pena. Nada vale a pena.
Paciência, somos pobres animais de Deus.
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