Bolsonaro como mistificador e pai do infortúnio
Por Emanoel Barreto
Começa a ser superado o instante histórico
cujo caldo de cultura político-comunicacional permitiu o surgimento do ovo da
serpente do qual foi parida a figura pública Bolsonaro. O mistificador, cujas ações
rústicas, brutalidade e ignorância desencadearam um processo de comunicação
patológica manifesta em violência e estupidez, tinha por intuito levar-nos aos
arrabaldes da civilização.
O entulho bolsonarista começa a
ser varrido, mas sabemos que deverá ser grande o esforço para sua superação uma
vez que os segmentos sociais que foram por ele sensibilizados já tinham e mantêm, em
alguma medida, propensão a aceitar uma figura como a sua.
Bastou a fagulha da loucura ser
proclamada e o descalabro mental se espalhou facilmente no senso comum dos que veem
no horrível e no medonho, na repressão e no militarismo a solução para a complexidade
de problemas sociais, econômicos e políticos.
O adversário é transformado em
inimigo, o comunismo é um perigo, uma espécie de bicho que ronda nas esquinas,
a palavra de Deus não é mais respeitada, a família corre grande perigo, a
pátria está sob grave ameaça.
Tais formulações, toscas,
deploravelmente simplistas, bem como a ignorância conceitual generalizada do
que sejam os objetos de valoração mencionados no parágrafo acima, facilitou em
muito a presença e força do bolsonarismo, uma proto-doutrina que aos olhos do
senso comum responderia a todos os seus valores e convicções – básicos,
rasteiros, confusos.
Agora, é trabalhar pela
revalorização dos valores civilizatórios para a busca da solução de problemas
que sabemos enraizados no cotidiano do brasileiro – a péssima divisão de renda,
o ensino público deficitário, a questão da saúde pública, o respeito à natureza
e aos povos indígenas, a marginalização decorrente da questão salarial, são exemplos.
Importante também é tornar perceptível
o quanto foi terrível o período de escuridão e barbárie ao qual estivemos
submetidos, mesmo sabendo que a fenômeno Bolsonaro foi e ainda é uma força que
despertou os mais densos e nevoentos intentos na extrema direita. E tal segmento
insistirá em garantir seu espaço e suas ideias e ódio como prática política e tática
de busca pelo poder.
Mas, como em Pavão misteriozo,
talvez a mais bela composição de Ednardo vamos dizer: Não temas, minha donzela
/ Nossa sorte nessa guerra / Eles são muitos /Mas não podem voar.
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