that’s the question
Por Emanoel Barreto
Primeiramente veio uma praga
política que tisnou – ou melhor, calibrou com ódio de jararaca braba – o voto de
eleitores e o resultado das urnas; depois chegaram ondas e ondas de peste, numa
baba grossa de cólera e tramas, azedumes e ímpetos – atos que variam da zanga à
sanha, da fúria a danações, do rancor à ira.
Quem vê tudo isso – e tem algum
juízo – tem medo. Como diz a canção do Roberto, certas recordações me matam.
Afinal, após o aporte da tormenta
chegou da natureza bruta um ser, um parasita que tomou de assalto o mundo e instalou-se
entre nós. Aqui encontrou porto seguro e a presença luxuosa de quem tem o poder
de gerar confusão e alarido.
É triste: mas passamos a conviver
com o coronavírus.
E tem gente que o aceita bem. Muitos,
de forma troncha, quase o cultuam como a um deus: o corona é o novo bezerro de
ouro, ave. É uma relação de risco a adoração do bizarro bezerro. Suspeito até que
haja quem o veja como mansinho, criaturinha adorável...
Perdão, sei que exagero. Mas, se
não se chega a tanto, há pelo menos quem admita: com jeitinho podemos com ele nos
acomodar.
Faz assim: fasta uma mesa pra cá,
fasta outra mesa pra lá, e a gente convive com o corona. Especialmente porque o
bicho é sociável, notou? Onde tem festa ele vai e participa, confraterniza com
a alegria e se abraça com quem é de abraço. Tem grande empatia e gosta de
gente.
O bom senso manda que devemos
manter distância, mas quem aguenta ficar em casa? Tem praia, tem bar, tem
shopping pessoal... Vamos perder tudo isso? Vamos deixar de viver? Tem gente
morrendo? Basta dizer não sou coveiro, e pronto. O cara tem mesmo é que dizer: ninguém
merece morrer de tédio...
E aí, abre a porta e vai...
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