segunda-feira, 20 de julho de 2020


that’s the question




Por Emanoel Barreto

Primeiramente veio uma praga política que tisnou – ou melhor, calibrou com ódio de jararaca braba – o voto de eleitores e o resultado das urnas; depois chegaram ondas e ondas de peste, numa baba grossa de cólera e tramas, azedumes e ímpetos – atos que variam da zanga à sanha, da fúria a danações, do rancor à ira.

Quem vê tudo isso – e tem algum juízo – tem medo. Como diz a canção do Roberto, certas recordações me matam. 

Afinal, após o aporte da tormenta chegou da natureza bruta um ser, um parasita que tomou de assalto o mundo e instalou-se entre nós. Aqui encontrou porto seguro e a presença luxuosa de quem tem o poder de gerar confusão e alarido. 

É triste: mas passamos a conviver com o coronavírus.
E tem gente que o aceita bem. Muitos, de forma troncha, quase o cultuam como a um deus: o corona é o novo bezerro de ouro, ave. É uma relação de risco a adoração do bizarro bezerro. Suspeito até que haja quem o veja como mansinho, criaturinha adorável... 

Perdão, sei que exagero. Mas, se não se chega a tanto, há pelo menos quem admita: com jeitinho podemos com ele nos acomodar.  

Faz assim: fasta uma mesa pra cá, fasta outra mesa pra lá, e a gente convive com o corona. Especialmente porque o bicho é sociável, notou? Onde tem festa ele vai e participa, confraterniza com a alegria e se abraça com quem é de abraço. Tem grande empatia e gosta de gente. 

O bom senso manda que devemos manter distância, mas quem aguenta ficar em casa? Tem praia, tem bar, tem shopping pessoal... Vamos perder tudo isso? Vamos deixar de viver? Tem gente morrendo? Basta dizer não sou coveiro, e pronto. O cara tem mesmo é que dizer: ninguém merece morrer de tédio...
E aí, abre a porta e vai...

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