O dragão, o louco e os males que
já se espalham
Por Emanoel Barreto
Falei ontem que soube a respeito
de um louco que pode e manda, ordena e afronta, ameaça e urra; falei de um poderoso
bruto. Mais: soube que o ogro detém sob seu braço e ordens um grande dragão que
cruza os céus e mete meto.
Como tipógrafo resolvi apurar tal
e temível fato a fim de transformá-lo em uma de minhas narrativas pois é do
alvitre dos bons e dos simples de tais cousas saber para delas poder fugir. Como
disse ontem, minhas pobres notas somente circulam entre os que se incluem
naqueles chamados povo, gente de poucas posses e que muitas vezes nada tem.
E é junto a essas pessoas que busco
minhas informações, especialmente quando me encontro com viajantes e marinheiros,
pois são os caminheiros e velejantes aqueles que mais têm novas e anúncios.
Um deles, chegado das terras do
Oriente, garantiu-me que sim; que há um demente e seu dragão, e que a tal e
animosa fera voa como pássaro e tem jatos de fogo pelas ventas. Outro, vindo de
terras da Europa assegurou-me mais: disse ter visto o perigosíssimo prodígio e
que, sim, já está em nossas terras causando pavor e morte.
Passei toda a noite de ontem em
busca de informações e todos os que ouvi me narraram fatos idênticos: e quando
pessoas que não se conhecem contam a mesma cousa dou tal história por verdade e
prontifico-me a passá-la aos meus papéis.
Soube também que o aluado que
manda no dragão tem anunciado que haverá trevas e muitas mortes e que o dragão
é o menor dos seus terrores; diz que infundirá a tirania como forma de governo
e que isso deve ser visto como algo de boa ordem e por todos desejável.
Mais, tem mais: muitos seguirão
seus passos. Gritando e erguendo bandeiras. Pedirão que insensatez, imprudência, inconsequência, irresponsabilidade,
irreflexão, temeridade, leviandade e precipitação sejam código
e lei, e que os homens e mulheres sensatos e reflexivos sejam tidos como defensores de ideias exóticas
e perigosas.
Assim, depois de com muitos conversar
retiro-me das ruas onde fui informado de tais fatos e ocorrências. Vou agora à
minha tipografia. Imprimo tudo o que verifiquei de ver próprio e de ouvir
atento, e farei a sua distribuição em praças e ambientes de taverna.
Espero que meus leitores,
leitores deste velho tipógrafo, ouçam este texto e preparem-se para cautelosamente
observar o que fará o dragão e que ordens lhe dará o seu mestre. E, se tiverem
tempo, fujam.
Agora preciso parar de pensar e
começar a escrever.
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