O Ministério da Doença
e as pessoas desterradas
Por Emanoel Barreto
Ouvi ontem de um viajante vindo
do Extremo Oriente que um governante, não querendo gastar com a saúde do povo,
criou o Ministério da Doença e proibiu a todos de... adoecer. Os doentes seriam
considerados indivíduos nefastos e assim sendo deveriam ser levados a locais
ermos sendo ali abandonados.
Veja bem: faz certo sentido,
dizia o viajante; e salientava que uma pessoa em situação de prostração, cheia
de problemas físicos, enovelada em questões psiquiátricas, somente serve de mal
exemplo.
Esses tipos estimulam a preguiça,
o ócio, malandragem, indolência e vadiação. Assim, devem todos ser levados aos
tais locais distantes, para que fiquem livres de suas más influências os bons e
operosos, os atentos e os que lavram a vida com força e decisão.
Saiu o viajante de perto e mim e
logo depois veio outro: falou-me do Ministério da Doença e acrescentou à
história algo bem interessante: disse-me que os afastados – como passaram a ser
conhecidos os que haviam sido desterrados – haviam se curado pouco a pouco; e então,
já fortes e bem nutridos haviam voltado.
Chegando à capital do país foram
direto ao Ministério da Doença tomar satisfações. Ali constataram que ali agora
funcionava o Ministério da Saúde, pois o ministro havia adoecido. E, com medo
de ser deportado, havia criado o novo ministério, mandara construir um grande hospital
e se encontrava internado.
Todos partiram para o hospital. Ali
descobriram que o ministro já não mais estava. Por precaução se fizera eleger
presidente da república. Os antigos doentes perceberam então que, além deles, não havia mais ninguém na cidade: o
presidente havia privatizado o povo e todas as pessoas haviam sido vendidas a países
que precisavam de mão de obra boa e barata.
E nós?, perguntaram. Vocês todos
estão presos, disse uma voz num grande alto-falante. Por quê?, foi a pergunta.
Porque todo país que se preze precisa de presídios. E precisamos de presos para
os presídios, respondeu a voz.
Então todos foram levados à penitenciária
e lá ficaram. O país foi entregue aos mesmos estrangeiros que haviam comprado o
povo e preço vil; e agora o presidente diz que vai criar o Ministério de Fazer Não
Sei de Quê.
Quando lhe perguntaram o que
faria tal repartição ele respondeu: “Se é o Ministério de Fazer Não Sei de Quê,
esteja certo: vai fazer não sei o quê lá! E já é muita coisa.”
Virou-se e foi passear.
PS: As pessoas presas continuam lá, no presídio.
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