Se for beber combine antes com o coronavírus
Por Emanoel Barreto
O Brasil é um país rasurado. Seu mapa
foi desenhado a golpes de estado, força de facões, lepo de chibata, queda de
florestas, discursos mentirosos, regozijos de mentiras.
Vivemos uma lepra invisível que nos
chega e mata, mas muitos querem que se abram os bares para festejar não sei o
quê. Querem uma alegria engarrafada e um porre de normalidade quando no momento
nada é normal.
Querem restaurante onde o garçom
está paramentado como num filme da família Adams. O restaurante como antessala
do hospital num clima falsificado de bom atendimento; é quase a literalidade do
popular comeu-morreu.
O Brasil é um país rasurado. É
bem assim: faz algo que não dá certo; apaga, suja o papel e faz de novo. Refaz em
cima do erro um novo e reparado lapso ou um acerto meia-boca.
E enquanto se fazem tentativas e
erros para abrir comércio cresce o número de mortos; ensaiamos para encenar ao
vivo The return of the living deads. E nisso estamos ficando craques. O Brasil
virou um campo de batalha entre o dinheiro e a vida.
Pessoas estão morrendo, mas é
preciso lucro. Literalmente, como nas cenas de assalto de filmes de antigamente,
temos: “O dinheiro ou a vida!” E o otário vai ao bar, dá o dinheiro e pode
estar bem perto de entregar a vida.
O Brasil é um país rasurado, caderno
mal escrito de aluno escroto que faz tudo errado pra depois chorar.
Faz o seguinte então: quando for
sair pra brincar de ser feliz combine antes com o vírus. Talvez faça mais
sentido.
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