quinta-feira, 23 de julho de 2020


Se for beber combine antes com o coronavírus

Por Emanoel Barreto

O Brasil é um país rasurado. Seu mapa foi desenhado a golpes de estado, força de facões, lepo de chibata, queda de florestas, discursos mentirosos, regozijos de mentiras. 

Vivemos uma lepra invisível que nos chega e mata, mas muitos querem que se abram os bares para festejar não sei o quê. Querem uma alegria engarrafada e um porre de normalidade quando no momento nada é normal.

Querem restaurante onde o garçom está paramentado como num filme da família Adams. O restaurante como antessala do hospital num clima falsificado de bom atendimento; é quase a literalidade do popular comeu-morreu. 

O Brasil é um país rasurado. É bem assim: faz algo que não dá certo; apaga, suja o papel e faz de novo. Refaz em cima do erro um novo e reparado lapso ou um acerto meia-boca. 

E enquanto se fazem tentativas e erros para abrir comércio cresce o número de mortos; ensaiamos para encenar ao vivo The return of the living deads. E nisso estamos ficando craques. O Brasil virou um campo de batalha entre o dinheiro e a vida. 

Pessoas estão morrendo, mas é preciso lucro. Literalmente, como nas cenas de assalto de filmes de antigamente, temos: “O dinheiro ou a vida!” E o otário vai ao bar, dá o dinheiro e pode estar bem perto de entregar a vida.

O Brasil é um país rasurado, caderno mal escrito de aluno escroto que faz tudo errado pra depois chorar. 

Faz o seguinte então: quando for sair pra brincar de ser feliz combine antes com o vírus. Talvez faça mais sentido.



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