Elegia e amor ao Diário de Natal
Emanoel Barreto
Passando hoje em frente ao que sobrou do grande edifício do Diário de Natal. Berçário do meu jornalismo, as ruínas me lançaram um grito íntimo, perguntando se eu as havia esquecido. Meu carro, como que já treinado a perceber os meus impulsos, parou, solidário às velhas paredes vergastadas pelos golpes da destruição.
O soluço maior daqueles restos o fui encontrar nas letras arrancadas da parede, onde se lia: "Diário de Natal", em caracteres azuis. Dirigi-me em procissão solitária no rumo das minhas lembranças gravadas em pedra e cal. Desci do carro e prestei homenagem àquele monumento desvalido.
O que estava fora de mim me chamava então, e dizia que ali, no meio dos escombros do passado, velhos e queridos fantasmas da minha infância de jornal ainda passeiam e, quem sabe, esperam inutilmente a próxima edição - do que jamais será publicado nas rotativas agora inexistentes.
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