quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Francês diz que o Brasil não presta e vem aqui para ser elogiado

O texto abaixo é da Folha, no caderno Ilhstrada. Trata-se de entrevista com um tal de Claude Lanzmann, cuja grande realização, parece, pelo destaque dado pelo jornal, é ter sido amante de Simone de Beauvoir. O sujeito desceu o malho no Brasil e em Niemeyer e não mereceu qualquer pergunta questionando seu preconceito. Um bom jornalista pode perfeitamente estabelecer uma entrevista de debate. Basta saber perguntar. Leia o que diz o citado elemento.

O amante de Beauvoir

Em "A Lebre da Patagônia" , livro de memórias que sai em junho no Brasil, o francês Claude Lanzmann narra caso com Simone de Beauvoir e faz balanço intelectual de sua geração; escritor vai participar da edição da Flip deste ano

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Durante sete anos (1952 -1959), o jornalista Claude Lanzmann, 85, formou com a escritora e filósofa Simone de Beauvoir (1908-1986) um casal apaixonado.
Ela tinha 44 anos quando, já consagrada autora da bíblia do feminismo, "O Segundo Sexo", conheceu o jovem de 27 anos, recém-admitido no clã de intelectuais que faziam a revista "Les Temps Modernes", criada por Beauvoir e Jean-Paul Sartre (1905-1980) em 1945.
O trio Lanzmann-Sartre-Beauvoir também viajou e trabalhou unido, construindo uma sólida amizade. Em suas memórias, "A Lebre da Patagônia", publicadas em 2009 em Paris, Lanzmann narra aventuras intelectuais e viagens que fez com o casal emblemático do existencialismo.
Faz também um balanço de sua vida de judeu francês, envolvido, ainda adolescente, na Resistência ao ocupante alemão durante a Segunda Guerra.
O livro será lançado em junho no Brasil pela Companhia das Letras. Um pouco depois Lanzmann virá ao Brasil. Neste ano ele é convidado da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que acontece entre os dias 6 e 10 de julho.
Mais informações sobre o evento estão no site www.flip.org.br.
Leia trechos da entrevista que Lanzmann concedeu à Folha, em sua casa, na capital francesa.

 


Folha - Com que estado de espírito vai conhecer o Brasil ? Claude Lanzmann - Já conheço o Rio, onde fui em 1985 ou 1986 para o festival de cinema organizado por um francês, Jean Gabriel Albicocco [na ocasião, Lanzmann exibiu "Shoah"].
Todo mundo ficava hospedado no mesmo hotel e um acordo tinha sido feito com a favela vizinha para que não houvesse violência.
O hotel era um prédio tipo torre, de Niemeyer, que é um criminoso. Ele ainda está vivo? Tem 103 anos? É um criminoso. Um arranha-céu circular é totalmente idiota, um absurdo.

Por que o sr. diz que Niemeyer é criminoso ?
Nesse arranha-céu onde o festival se desenrolava, esperávamos 45 minutos de fila para descer ou subir. Esse é o crime do arquiteto. O círculo serve para quê ?
As pessoas fazem os prisioneiros andarem em círculos nas prisões cortando assim qualquer projeto, qualquer futuro, é isso o círculo.
Os arquitetos que constroem prédios circulares são idiotas. Não tenho nenhum respeito por Oscar Niemeyer. Ele construiu Brasília também? Pior para Brasília.

O que tem contra ele ?
Não se constrói em círculo. Mas era a primeira vez que eu via o Atlântico Sul. Havia ondas enormes.
Depois, dormi na praia e fui assaltado por um menino que correu e eu não consegui agarrar. No pouco tempo que passei no Rio, vi mulheres terem os colares arrancados do pescoço.
O Rio é uma cidade que me pareceu extremamente perigosa. O meu filme, "Shoah", foi legendado às pressas e teve problema de tradução, os brasileiros fazem tudo na última hora.

"Shoah" foi bem recebido ?
Foi. Depois encontrei dois malucos que diziam que queriam comprar meu filme mas passavam o tempo todo ao telefone, jogando com o preço do café.

Ele não foi lançado em circuito normal ?
Não, a comunidade judaica do Rio se apossou dele e não sei o que fizeram porque os judeus são imbecis, não são sérios.

Os brasileiros vão descobrir "Shoah" neste ano com as entrevistas sobre seu livro ?
Talvez. Espero que sim. Talvez depois de 25 anos o Brasil tenha melhorado.

Seu livro foi saudado pela crítica como a obra de um grande escritor. Por que ter esperado tanto tempo para escrever suas memórias?
Porque não sou um homem apressado. Porque penso sempre que tenho tempo, não tenho a consciência da minha idade.

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