segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Um lamentável mal-entendido
Emanoel Barreto

"A democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido". A assertiva é de Sérgio
Buarque de Holanda em seu Raízes do Brasil. E é. Se não, como explicar a formação do PMDB em guerra de movimento para apoderar-se de tudo o que "lhe fosse de direito" no butim da eleição de Dilma?


Ulysses Guimarães, nos páramos aonde esteja, deve estar em lágrimas. Chega a ser incrível, pior, lamentável, pior ainda, repulsivo, como um grupo se arroga o direito de dominar cargos e escalões a fim de lançar esse processo de empoderamento às alturas mais escusas. Por que tanta ânsia de poder? Para servir ao povo é que não é.

O Estado passa a ser tido como uma espécie de concha onde, a exemplo do caranguejo ermitão, o grupo se encastoa, toma posse e usa a seu bel prazer. Os grandes destinos nacionais, as questões históricas mais relevantes, são tratados como se fizessem parte de um conchavo, um mesquinho acerto de contas - e no fim é isso mesmo.

O blocão, como ficou chamado na imprensa o monólito peemedebista, foi uma orquestração visando garantir ao partido, outrora tão representativo, um largo e grosso naco de poder, com o intuito mesmo do poder. Às favas a democracia.

À falta um projeto historico-ideológico de assumir o poder, se busca uma solução fisiológica: garantir espaço, e espaço cômodo a pessoas, como se integrar um governo fosse praça de mercado onda bufarinheiros espertos buscam se aquinhoar.

Nossa cultura política está centrada nessa cordialidade, termo tão buarquiano, que confunde o público com o privado e priva o social de uma verdadeira democracia, já que resultante, tal situação, de um negócio, pior, uma chantagem: ou nos dá cargos ou providenciamos a ingovernabilidade.

Parece que o blocão não deu certo, foi implodido porque tinha face de escândalo. Parece que não deu certo. Parece... Nestas paragens brasílicas nunca se sabe...
Imagem:http://www.google.com/imgres?imgurl=http://4.bp.blogspot.com/_WpJy5x0xUSA/TECmMK01R

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