Fotos de 18 dos 33 mineiros presos em galeria desde o dia 5 (Imagem Folha)
A proximidade afetiva
Emanoel Barreto
Chaplin dizia que "a vida é um fato local". Os acontecimentos que nos são próximos, aqueles que estão em nossa circunvizinhança, são valorados e tidos como importantes pelo fato mesmo de nos serem próximos espacialmente. Dizem respeito ao nosso lugar, à paisagem humana e física na qual transcorre a nossa cotidianidade, alentada pelo afeto que nos prende à sensação de estarmos imersos em território de bem-querer. O meu lugar é o meu mundo.
Todavia, acontecimentos distantes têm também potencial de atrair a nossa atenção pelo conteúdo humano neles depositato pelo nosso olhar. É o que costumo chamar de proximidade jornalística afetiva.
Tragédias, fatos que envolvam dor coletiva ou individual, acontecimentos pungentes, mesmo que espacialmente afastados conseguem despertar em nós o sentimento de solidariedade e isso os transforma em jornalisticamente noticiáveis, como é o caso dos mineiros chilenos e o terremoto no Haiti, o tsunami e o drama da mulher que pode ser apedrejada no Irã. Os exemplos são infindáveis.
O jornalismo tem sempre esse condão: é todo ele, mesmo no mais frio noticiário financeiro, movido pela emoção. Os mineiros encurralados nas entranhas da Terra, a débâcle da Bolsa de Nova Iorque, a apreensão de acionistas calculistas quanto ao futuro dos seus investimentos, tudo tem de alguma forma o envoltório da emoção, a preocupação, o temor existencial pelo futuro imediato ou longínquo.
No caso da proximidade afetiva esta se dá em função da sensação de participarmos da grande comunidade do Homem, a condição humana falível, instável, perigosa. Os mineiros, dizem as coisas de jornal -as notícias - somente deverão ser libertos, digamos assim, daqui a quatro meses.
Até lá haverá sempre uma corrente de expectativa, uma espécie de ansiedade social implorando que não morram de forma tão cruel. E o jornal é o precário hífen que nos prende a eles.
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