O feliz menino que virou anão de duas corcundas, aleijado, porco e senador. Acha pouco?
Emanoel Barreto
O menino passeava pela Rua dos Mágicos quando foi abordado por um mágico.
-Parabéns - disse o Mágico. - Você acaba de pisar na pedra de calçamento de número 2.000.0000.1000.7000.777.999.000 e assim ganhou o direito a ter um milhão de bilhões de pedidos. Qual o primeiro?
- Pode ser para quando eu crescer?
- Claro - garantiu o mágico. - O quer ser quando crescer?
- Quero ser - pediu o menino - um anão? Anão pode?
- Obviamente.
Então o menino cresceu e se tornou um magnífico anão de dois metros de altura. Era portanto enorme e anão ao mesmo tempo.
- Posso pedir mais?
- Você ainda tem muitos pedidos. O que quer ser mais?
- Um aleijado.
- Ótima escolha. Um anão gigantesco e ainda por cima aleijado é uma grande escolha.
E o menino tornou-se anão e aleijado de uma perna ao mesmo tempo.
- E o que mais? - acrescentou o mágico.
- Quero uma corcunda. Mas bem grande.
E veio-lhe a preciosa corcunda.
- Agora, quero um espelho para me ver.
E apareceu o espelho. Disse o menino: - Estou ótimo. Posso ter duas corcundas?
- Tudo o que você pedir.
E ele ganhou uma corcunda em cima da outra corcunda.
Então o mágico indagou: - E emprego? Não quer um bom emprego?
- Quero, quero quero. Quero o meu emprego já.
- O que deseja?
- Trabalhar num banco. Um banco internacional. Melhor, transnacional. Banco transnacional pode?
- Pode sim. Qual emprego deseja no banco: diretor, presidente, caixa, officeboy, ASG, devedor inadimplente, passador de cheques sem fundos, empresário falido, lobista, especulador da bolsa, falsificador de dinheiro, desviador de dinheiro de fundos de velhinhas viúvas?
- Não. Num banco o melhor emprego é o de assaltante. Portanto, quero ser assaltante de banco.
E o menino tornou-se o maior assaltante de bancos do mundo. Era recebido por todos os donos de bancos com champanhe e canapés de caviar. Afinal, entre assaltantes de bancos e banqueiros a diferença é pouca. Assim, estavam, ele e os banqueiros, todos literalmente em casa.
- E o que mais? - quis saber o mágico.
- Aha! Agora quero algo muito importante.
- Diga.
- Quero ser uma bisteca suína.
E virou uma bisteca suína. Suculenta e muito cara. Feita de porco especial.
O mágico afinal perguntou: - Mais alguma coisa? Ainda tem milhões de pedidos.
- Não estou gostando de ser uma bisteca. Estou me sentindo, digamos assim, incompleto. Transforme-me num porco. Assim estarei completo. Mas, um detalhe: o porco deverá ser um porco anão de dois metros de altura, ser aleijado e ter duas corcundas.
E logo ele estava transformado na hedionda criatura que pedira.
- E então? Satisfeito?
- Ainda não?
- Não?
- Não.
- O que mais?
- Libero você de todos os pedidos restantes se você agora me garantir que, além de porco anão com dois metros de altura, aleijado e com duas corcundas, serei senador. Quero ser tudo isso e mais Senador. Isso e nada mais quero da vida.
E o mágico gritou Alakazan!
O menino virou então um senador. Foi eleito com mais de dez milhões de votos e o resto você está sentindo na pele.
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