quinta-feira, 1 de julho de 2010

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Dilma toma chá, um índio vem da costa e Marina troca natureza pela Natura
Emanoel Barreto

A história republicana brasileira tem na sua vida partidária uma das mais sólidas manifestações de que tipo de democracia é por aqui perpetrada: as elites, aqui compreendendo-se o termo em sentido o mais largo possível, sempre se conluiam a fim de manter, mesmo que em processo de mutação, um determinado status quo. Aliás, a mutação, o rearranjo de forças é que garante a sustentação do establishment.

Pego três exemplos recentíssimos, fortes, ainda bem vivos e pulsantes:

1) O PSDB, que nas aparências formava um ser político monólito ao DEM, de repente apareceu com um candidato a vice em chapa puro-sangue. De repente as aparências ruíram e os demos entraram em ação. Resultado: o senador Ávaro Dias, ungido de última hora à condição de missionário ao lado de Serra é retirado do proscênio para ceder lugar a um político de nome esquisitíssimo: Índio da Costa, ilustre desconhecido de tamoios e tupiniquins, caetés e tupis. Agora chega para tocar a inúbia.

Resumo da ópera: de repente, não mais que de repente, surge um bravo guerreiro para trazer paz à maloca. E os demos e tucanos forçam a aparência de que tudo está, sempre esteve, em ordem e que todos são, realmente, homens e mulheres que se confiam mutuamente. Não são.

2) A senadora Marina Silva, campeã da causa verde, respeitada pela sociedade civil de todo o mundo, quem diria, caiu nas malhas da grande empresa, aliando-se ao dono da Natura. Esqueceu a floresta pelas cosmética indicação do magnata Guilherme Leal. Nada mais desleal para quem nela confiava.

3) Quanto a Dilma, um registro da Folha é bastante explícito para mostrar a quantas anda a coerência partidária. Reuniu-se anteontem com um grupo de socialites, a fina flor da burguesia de São Paulo, atendendo a convite do empresário Abílio Diniz, dono da rede Pão de Açúcar.

Ou seja: passou uma boa parte daquela tarde tricotanto com mulheres riquissímas e estúpidas. Ou seja: em processo de rendição aos que têm poder. Diz a Folha que todas saíram do encontro "encantadas" com a candidata - mas votando em Serra. Fica a pergunta: o que é isso, companheira?

O que pretendo dizer com tudo isso? Não, não estou pregando a revolução, o grito às armas contra o capital e seus efeitos colaterais perversos. Nada disso. Apenas enfatizo a velha e conhecida cantilena dos políticos, que se apresentam como salvadores da pátria etcétera e tal.

Alguém pode argumentar que se trata de "pragmatismo", guerra de posição, ocupação de espaços em favor de causa maior. Pode até ser, mesmo que seja só um pouco - pelo menos no caso de Marina e Dilma.

Mas é também, é como é, a avoenga e poderosa reprodução do poderio das elites - Marina e Dilma são uma forma desse elitismo, elite no sentido de pertencimento ao Poder - na perpetuação de um determinado quadro da política brasileira que não visa reformas essenciais na estrutura, na conjuntura e na superestrutura.

Não há uma reforma da forma mentis, do pensar dos políticos e dos seus intentos. Afinal, desde a ágora, o discurso, a sedução do outro, a argumentação, a retórica, têm definido os rumos da Cidade. Dizer, não quer dizer fazer.

E pior, nem todos os mares nos levam a Ítaca.

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