quinta-feira, 21 de janeiro de 2010



A mentira e a verdade na fotografia
A falsificação do presente
Emanoel Barreto

A foto acima, de autoria do espanhol José Luiz Rodriguez, vencedora prêmio Wildlife Photographer of the Year, foi desclassificada após especialistas constarem que se tratava de animal treinado, habitante de um zooólogico.

Antes da descoberta fora tida como de extraordinária perícia técnica do fotógrafo. Diz a Folha Online, citando declaração de especalista à BBC Brasil, quando a manobra do autor da foto ainda era desconhecida: "A foto, escolhida entre mais de 43 mil concorrentes, foi descrita por um dos juízes como sendo uma imagem que "fala por si mesma - milhares de anos de história estão congelados neste momento executado com maestria. Esta é uma fotografia mais tecnicamente complexa de se conseguir do que alguém possa imaginar".

A falsificação da realidade na fotografia, seja pelo enquadramento, pelo uso de recursos de manobras laboratoriais na manipulações de filmes ou com o photoshop, é uma forma de fraude do real a partir mesmo de uma antiga afirmativa: "Uma foto diz mais que mil palavras."

Afinal, a foto "mostra" o real visível e isso seria suficiente para a sua credibilidade. O ditador Stalin "retirava" de fotos aliados ou subordinados caídos em desgraça, quando a pessoa, na verdade, havia sido riscada do mapa político da União Soviética por morte ou confinamento num gulag. Se não estava na foto não estava no mundo.

A falsificação do presente atende a muitos propósitos e isso interessa, e muito, a todos os que se aproveitam de alguma forma de poder para manipular os demais.

O poder de alguém de mostrar o mundo, figurando-o a seu bel prazer, é algo perigoso porque dá a esse alguém a possibilidade de fragmentar o mundo, dizendo porém que o mundo inteiro está nessa foto.

A representação real do presente




Aqui, na foto de João Maria Alves, demonstração perfeita de captação do momento preciso. Trata-se de composição, verdadeiro texto significando um dado de mundo. Trata-se de momento poético-político, porque mostra o humano, em sua consciência de ser diminuto e perplexo com as dores do mundo, buscando, pelo divino, a purgação de suas angústias sociais.

A mão humana clama o que a mão política, invisível e fria, não atende.

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