Faquinha: o menino que nos faz ter medo
Emanoel Barreto
A charge do Glauco, na Folha Ilustrada, não é humor. Não, não é. A charge jamais foi humor. É editorial, é ponto de vista. Tanto mais crítica quanto mais crítica seja a situação sócio-política sobre a qual se remete. Se o leitor quiser aceitar, chega ao lamento.
A rigor Faquinha é uma vítima. Cumpre, no universo delimitado pelos quadrinhos, sua sina de ser brasileiro, pobre, nascido em metrópole que tem na exclusão seu ponto máximo e seu fulcro. Perdão pelo "fulcro". Parece coisa de processo, coisa de linguagem de advogado. Mas foi o que me ocorreu.
Mas, vendo bem, acho que acertei. Faquinha é um "criminoso", é um "menor". Está envolvido pela malha da "justiça".
E "menor" é o termo jurídico-assistencialista com que se define a condição da criança desassistida, filha de família humilhada, faminta, desfeita, onde o álcool e outras drogas são o cotidiano.
Tecnicamente, o nome do personagem é perfeito. "Faquinha". Sugere agressividade, mesmo que agressividade pequenina, mas, mesmo assim, agressividade, fervor ferino de quem, de alguma forma se percebendo excluído - pela fome que sente, por não ter nada -, parte para a agressão.
Faquinha é esse brasileirinho malvado, dependende de valores desvirtuados, viciado em roubar, furtar, ofender, ferir, bater. Desrespeitar a lei e atacar até mesmo outros inocentes: o trabalhador, o assalariado, a pessoa de classe média. É esse o seu mundo, como é esse o mundo de muitos outros faquinhas.
Esse é o Brasil. Que vivemos e sentimos. Quer dizer: nem todos. Os acima-da-lei estão impunes, empunhando seus mandatos e seu dinheiro. E o que falta nas famílias pobres garante que teremos, não sei por quanto tempo, muitos e outros "Faquinhas."
Triste, né?
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