terça-feira, 19 de janeiro de 2010


Carolyn Cole / Los Angeles Times
Clausewitz vive
Emanoel Barreto

A tragédia do Haiti, passado o impacto inicial e suas consequências mais terríveis, tenderá a ingressar na cotidianidade da vida como coisa consumada. Seja para seus cidadãos, seja para os países que estão se propondo a, no momento, socorrê-los. O grande problema, a sombria indagação é: até quando permanecerá essa ajuda? Até que dia os países centrais contiribuirão para o refazimento daquele povo como sociedade política e quais os interesses que dirigirão sua presença ali.


Uma análise superficial permite uma constatação: com a tragédia, os Estados Unidos, de forma unilateral, assumiram o controle do aeroporto da capital, deixando claro, para quem puder entender, que sua presença ali esconde algo mais que o de simples ajuda humanitéria.


A ação americana cumpre papel tático. Não é preciso ser Clausewitz para perceber isso. A ocupação do aeroporto, sem qualquer consulta à presidência do país e às nações integrantes da Minustah, demonstra à larga o que afirmo. Por que os americanos não se juntaram ao esforço humanitário propriamente dito, optando por deter o controle aeroportuário? Resposta: pelo fato simples de que, com isso, eles detêm literalmente, manu militari, o poder de controlar esse aspecto vital.


A presença americana não se fez a partir da chegada das tropas da Minustah, já que o gigante do norte supunha que a situação do povo haitiano, com toda a sua cruel realidade histórica, seria mantida em fogo brando. Todavia, com o desastre, e com o desmantelamento do já enfraquecido Estado haitiano, os países componentes da Minustah passariam a assumir presença hegemônica, já que em sequência trata-se não apenas de socorrer pessoas desvalidas, mas trabalhar para a reconstrução de uma sociedade e de um Estado.


Obama, desta forma, agiu rápido, determinando a suas tropas essa invasão em nome de um socorro humanitário, quando, na verdade, estas atuam na preservação da presença americana no Caribe. O quadro permite a suposição de que os Estados Unidos vieram para ficar, tendo a seu favor a desculpa da "ajuda humanitária". Com isso, preservam sua situação hegemônica e colocam na manga uma carta preciosa em seu baralho de política externa para a bacia do Caribe. Clausewitz vive.



O olhar do mestre
Na foto de João Maria Alves, o Johnguardacosta no Twitter, o olhar treinado de um mestre, pintor de cenas da vida. Como um impressionista ajusta lentes e olhar e dá forma pulsante ao cotidiano que nos cerca.

Pensando em voz alta


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Faça tudo, não faça nada. Não pense, não tente endender. Os sinais estão todos fechados. A vida parou num carrossel estranho ou estrada sem ida ou volta. 



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