sexta-feira, 15 de janeiro de 2010


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Foram eles, foram aqueles negros malditos...
Emanoel Barreto

As elites justificam a necessidade funcional de sua existência a partir de um relativismo simplista: os "pobres", quer dizer, o "povo", é ignorante, estúpido e assim precisa de alguém que o dirija, ou seja: "eles", as elites. Leia abaixo como isso se comprova, em transcrição de entrevista que li na Folha Online, do cônsul geral do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine.

Reportagem exibida ontem (14) no "SBT Brasil" mostra o cônsul geral do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine, afirmando que a tragédia no Haiti está tendo bons resultados para ele e atribuindo a culpa do terremoto de terça-feira (12) à religião.


Antoine deu as declarações à repórter Elaine Cortez sem saber que estava sendo gravado.


"A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido", disse o cônsul. "Acho que de, tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá f...", completa Antoine.


Uma das principais correntes religiosas no país é o vodu, que tem relação com outras manifestações de origem africana como o candomblé e a santeria.


Após a gravação da reportagem, o jornalista Carlos Nascimento informou que foi feito outro contato com o cônsul, que disse ser uma pessoa preparada para o cargo.
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Uma das manifestações do senso comum das pessoas "cultas" é atribuir às religiões afro esse terrível poder ou pelo menos a intenção e o propósito de (somente) fazer o mal. O fetichismo religioso afro, em contenção histórica com o judaico-cristianismo sempre foi alvo desse senso comum - contenção criada pela hierarquia econômica e social judaico-cristã, que tinha nos negros seus escravos.

A incomprensão, o temor do desconhecido - a religião de "povos inferiores" e subalternizados - criou todo um esquema de pensamento coletivo que atribuiu ao outro, os escravos, o condão maligno de fazedores do mal, inteiramente a isso devotados.

Até mesmo um haitiano, integrante da elite pensante do país, no caso um cônsul, é portador desse discurso facilitador, que se vale de explicação reducionista e preconceituosa para analisar uma tragédia de origem natural.

As religiões afro têm toda uma teologia e uma teogonia, uma ética e um procedimento ritual, do mesmo modo que o cristianismo. Têm também, e é isso que assombra o senso comum "culto", todo um procedimento mágico para intervir no mundo da vida, do mesmo modo que o têm também os seguidores do catolicismo e do protestantismo quando evocam a Deus pedindo milagres.

Pelo exposto, espero que, sob a proteção de Nossa Senhora e também de minha mãe Iansã, a deusa dos raios e das forças dos elementos, o povo do Haiti conseguirá um dia, no longo período do drama histórico, chegar a uma situação de dignidade e vivência de um tempo melhor.

Epa rei, Oxalá! Epa rei, Jesus!




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