quinta-feira, 14 de janeiro de 2010


Haiti, a escravidão histórica de um povo
Emanoel Barreto

A agência Estado, do Estadão, registra um lapso histórico onde se expõem os dramas de um povo subalternizado e explorado:

SÃO PAULO - Colônia da França no Caribe, o Haiti era mais uma peça do sistema mercantilista da Idade Moderna. A ilha era grande produtora de açúcar, enquanto consumia os produtos e engordava o caixa da metrópole. Porém, na esteira da Revolução Francesa de 1789 começaram as movimentações pela libertação do Haiti.

A singularidade do país está no fato de que a independência foi conseguida por um movimento de escravos, tendo à frente o líder negro Toussaint Louverture, em 1804. Nascia então a primeira república negra do mundo. Após a prisão de Louverture por tropas francesas, Jean-Jacques Dessalines passou a liderar a nação e ajudou a consolidar a independência.

O Haiti permaneceu em boa medida isolado durante o século XIX pelas potências europeias que não queriam encorajar rebeliões de escravos em outros pontos. Entre 1915 e 1934, a ilha foi dominada por fuzileiros norte-americanos, durante uma ocupação dos Estados Unidos. Um período trágico da história haitiana ocorreu entre 1957 e 1986, época de domínio do ditador François Duvalier, o "Papa Doc", sucedido em 1971 por seu filho Jean-Claude Duvalier. O chamado "Baby Doc" foi deposto em 1986, pondo fim ao período repressivo.

Pobreza


País de 9 milhões de habitantes, o Haiti apareceu no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) relativo a 2008 na 148ª posição, sendo a nação mais pobre das Américas. Com uma expectativa de vida de 60,78 anos e analfabetismo atingindo 52,9% da população, segundo o site CIA World Factbook, a ilha tem enfrentado instabilidade política crônica.


Em 2004, o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto. Para controlar a situação tensa, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou o envio de uma força de mantenedores de paz, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah). Liderada pelo Brasil, a força tem atualmente 7 mil homens, sendo 1.266 brasileiros.


No ano passado, o Haiti foi ainda bastante afetado por furacões e tufões, que destruíram parte da já combalida infraestrutura local. Foi ainda um dos mais atingidos pelas altas recentes nos preços dos alimentos por todo o mundo, o que provocou uma série de protestos da população local em 2008. As informações são da Dow Jones.
...

O breve perfil histórico dá conta da tragéria oculta pela tragédia: um povo mantido sob escravidão e sofrimento por potências econômicas, de cujo trabalho se aproveitou tudo, antes de ser abandonado à própria sorte - ou desgraça.

Virão agora, já são anunciadas, as "ajudas humanitárias" como um lavar de mãos, um discurso e um gesto que oscilam entre cinismo e hipocrisia, para a seguir ser o país novamente entregue ao caos que se tornou sua rotina, sua sina e seu fado.

Não havendo uma atitude séria, responsável e credível, o Haiti não encontrará forças para se organizar social e economicamente, pois lhe faltam condições estruturais que permitam o surgimento de ações políticas internas voltadas para o desenvolvimento.

Apenas o envio de tropas para manter um frágil equilíbrio na convivência social, significará a manutenção de um estado de coisas onde a desumanização, a barbárie e a violência dos mais diversos tipos serão a nota dominante. A história segue seu curso a partir da relação dominantes/dominados e busca sua permanência a partir de circunstância onde, havendo a paz dos cemitérios, haverá a paz que interessa a quem sempre viveu da exploração e da humilhação da humanidade.

Nenhum comentário: