Foto: Damon Winter/The New York Times
A miséria do jornalismo
Emanoel Barreto
Os jornalistas padecemos de um mal, praticamos uma espécie de perversidade, mesmo quando não a desejamos. Por ofício, exercitamos uma arte: a de narrar o mundo; estetizando, para dar mais força à narrativa, até mesmo a miséria que queremos retratar, quando a queremos denunciar.
É o que chamo de a miséria do jornalismo. É um processo metalinguístico. Para mostrar o mal terminamos mostrando o mal em forma estética. Algo de que, no fundo, o profissional se orgulha. O impressionismo/expressionismo das fotos são uma forma de subtexto que diz: "Veja como eu sou competente. Veja como eu estou sendo fiel aos fatos."
Aprisionamos, especialmente em fotos, o drama, o horror, o medo, em imagens dessa terrível arte a que estamos presos. É uma espécie de "proteger e servir" que se faz em forma de urgência. E mesmo sendo terrível não pode deixar de ser feito pois, de qualquer forma, é preciso, sim, mostrar o mal - cruel dilema.
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