sábado, 30 de dezembro de 2006

Morreu aquele que muito matou

À uma hora de Brasília,foi enforcado Saddam Hussein.
Mas isso não livra o mundo do mal,
pois o mal, como o vento, circula à solta.
O mal é um vento frio,
que atinge a alma e nos põe cabisbaixos.

Outros saddams existem.
E estão habitando o mundo
e as vidas de milhões de pessoas.

E isso faz do mundo um grande cortejo de vazios,
um préstito de medos solitários,
uma procissão de desvalidos coxeando.

Somos todos sombras caminhantes.

Por uma questão de bom senso - e de respeito a você - não sei se devo enganar a quem me lê, desejando um feliz ano novo. Desejo-lhe, sim, paz interior. Essa, você pode procurar.
Emanoel Barreto

PS: Voltarei a atualizar o blog dia 2 de janeiro

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O texto a seguir foi enviado pela cronista Zilda Neves. Vale publicar, já que os ecos do natal ainda ressoam em nossa vida.

O PRESENTE

24 de dezembro. Vinte reais. Era toda sua economia de um ano. Como presentear Roberto, no dia de Natal. Lágrimas rolam pelo rosto desconsolado de Silvia. Dona de casa exemplar, após todos os gastos mensais, guardava as moedas que poupava, num pequeno cofre.

Roberto, seu marido, merecia um presente digno, algo que marcasse sua vida. Tinham poucos bens móveis; alguns, guardados como relíquias.
Certamente, o marido admirava seus cabelos: longos, sedosos, naturais; ela, por sua vez, se orgulhava do relógio que ele conservava como lembrança de seu avô paterno.

Silvia enxugou as lágrimas colocou uma blusa já surrada, e altiva, levantou-se da cadeira, indo para a rua. As vitrines enfeitadas, coloridas, davam-lhe coragem.
Parou em frente a uma loja onde uma placa anunciava: “COIFFEUR”: tudo para seu cabelo. Entre e confira!

Ela entrou certa do que queria: vender seu cabelo.
- Eu compro, disse o cabeleireiro. Deixe-me vê-los soltos. Rapidamente as travessas foram retiradas, e uma linda cascata castanha, rolou pelos ombros da cliente. Oitenta reais é o que valem, questionou o dono do salão!
- São seus, disse Silvia.

As horas passavam rapidamente. Algumas lojas foram vasculhadas e finalmente encontrou o que procurava com os cem reais conseguidos: uma corrente de prata, para relógio. O relógio de Roberto!

Em casa, feliz com a compra, só então ela se deu conta do seu visual. Olhou-se no espelho e novamente lágrimas rolaram em sua face. O que iria dizer ao marido?
23 horas... A porta se abriu. Roberto, cansado, imóvel olha para a mulher. Um olhar sem expressão. Silvia corre para ele e diz:
- Não me censure. Por favor! Vendi-o, mas crescerá novamente. Sou a mesma pessoa que você ama! Veja que lindo presente tenho para você.

Roberto, perplexo, finalmente parece acordar. Abraçando-a, entrega-lhe um pequeno embrulho. Silvia, nervosamente abre-o e surpresa vê as “Travessas de madrepérola” , que tanto sonhara para prender seus cabelos...

Rapidamente, ela pede o relógio ao marido dizendo:
- Veja como vai ficar bonito, entregando-lhe a corrente.

Roberto cabisbaixo, responde:
- Não tenho mais relógio. Vendi-o para comprar seu presente.
A emoção toma conta do casal.
Abraçados choram, riem, gritando: “Feliz Natal”!

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pela linda crônica "O PRESENTE", bom se ainda existem pessoas que acreditam em Papai Noel de forma singela, humana e de amor. Viva! Claudio Santos