quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Saddam, o cadafalso e as dores do mundo

Os jornais falam que o enforcamento de Saddam Hussein pode se dar a qualquer momento. E as manchetes gritam seu anúncio da vingança do Estado contra quem, quando foi dono do Estado, fazia com os outros aquilo que farão com ele.

Seus adversários decerto irão comemorar sua morte, humilhante e grotescamente cruel; seus amigos e partidários gritarão aos céus, erguerão as mãos a Alá, o Misericordioso, chorando mais um mártir.

Na verdade, o Iraque é um país perplexo de si mesmo, exausto de seus dramas e inundado pelas lágrimas de suas mulheres; pasmo do medo das suas crianças, lavado pelo sangue do invasor arrogante, devastado pelas explosões enlouquecidas de seus homens-bomba e cheio do doloroso vazio de estar vivo entre escombros de homens e de máquinas. O Iraque é o esconderijo da ira.

A crônica da História já intimou ao cadafalso da tragédia a morte de quem tanto matou. E a Morte, esse ser sem forma e sem consistência; esse ser que não é porque não existe; não existe porque é ausência de vida, mas que todos guardamos dentro de nós, sempre acorre, quando se faz chamada. E virá até Saddam no nó corrediço da Justiça vingativa.

Segue Saddam, segue à tua forca. Mas, lamentável e tristemente, de alguma forma todo o mundo, como em profunda solidão rumo às sombras, também sucumbirá à agonia, ave soturna de tua estúpida paixão.

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