sexta-feira, 10 de março de 2023

Bolsonaro, o magnífico farsante

Por Emanoel Barreto

O bolsonarismo vive uma crise de identidade. Seu ídolo, seu mito, tinha os pés de barro, que se esboroou e já deixa claro que era apenas uma figura tosca balbuciando um discurso trôpego, um enunciado sem mensagem ecoando os valores do senso comum, daí sua penetração e consolidação.

Agora, quando começa a se esfumaçar a imagem do líder,  falsificada pela oportunidade do momento histórico em que se deu a campanha em que foi eleito, o PL, seu partido, chega inexoravelmente a uma pergunta: “E agora?”

A festa acabou, o samba passou, a alegria esgotou-se, a mensagem de brutalidade está seguindo ladeira abaixo, as coisas vão mal, muito mal. O presente de Ali Babá e seus 16 milhões transformou-se num cavalo de troia que desmonta o mito e seus mitômanos.

E o bolsonarismo, então, tenta desesperadamente uma resposta à sua própria pergunta e pretende testar uma resposta: ante a iminente possibilidade de ele tornar-se inelegível estão pensando em colocar em seu lugar a mulher, Michele Bolsonaro.

Trata-se de substituir uma embuste por outro, pôr um simulacro no espaço antes ocupado por um fingidor. Esquecem-se de que a História é irrepetível: um certo momento marcado por intensidades e propostas – por mais aloucadas e estúpidas que sejam – jamais se repete. Ninguém conseguirá fingir o embuste Bolsonaro tão bem como ele.

A farsa pertence ao farsante, somente ele conseguiu produzir o desastre pleno, a derrocada exata e desastrada da tentativa de depor a democracia.

Será inútil a intentona do PL: por mais que Michelle tente, não conseguirá atingir o as alturas da insanidade do marido. Ele foi o magnífico farsante, o mais completo pregoeiro da desgraça – e fez isso muito bem.

 Líderes, mesmo os mais mal-ajambrados, não se fazem nos laboratórios das agências de propaganda. É preciso ter competência até mesmo para ser incompetente, é preciso ter o desejo sincero de ser um arremedo de condutor e presidente.

Ela não conseguirá repetir Bolsonaro. Falhará miseravelmente. Não tem liderança fora do seu acanhado círculo de atuação, não tem o carisma troncho do marido, não vai chamar às ruas a desordem e o golpismo como fez Bolsonaro. Será melhor desistir, antes de preparar a sua própria derrota.

Bolsonaro, ao que tudo indica, começa a passar. Todavia, precisamos ter cuidado com os restolhos que, lamentavelmente, está acumulados, na sarjeta da História. A História não se repete, mas pode criar novos monstros. Certamente outros, profissionais da política, já estão de olho no butim.

 

 

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