Bolsonaro, o magnífico farsante
Por Emanoel Barreto
O bolsonarismo vive uma crise de
identidade. Seu ídolo, seu mito, tinha os pés de barro, que se esboroou e já
deixa claro que era apenas uma figura tosca balbuciando um discurso trôpego, um
enunciado sem mensagem ecoando os valores do senso comum, daí sua penetração e
consolidação.
Agora, quando começa a se esfumaçar
a imagem do líder, falsificada pela
oportunidade do momento histórico em que se deu a campanha em que foi eleito, o
PL, seu partido, chega inexoravelmente a uma pergunta: “E agora?”
A festa acabou, o samba passou, a
alegria esgotou-se, a mensagem de brutalidade está seguindo ladeira abaixo, as
coisas vão mal, muito mal. O presente de Ali Babá e seus 16 milhões transformou-se
num cavalo de troia que desmonta o mito e seus mitômanos.
E o bolsonarismo, então, tenta
desesperadamente uma resposta à sua própria pergunta e pretende testar uma
resposta: ante a iminente possibilidade de ele tornar-se inelegível estão pensando
em colocar em seu lugar a mulher, Michele Bolsonaro.
Trata-se de substituir uma
embuste por outro, pôr um simulacro no espaço antes ocupado por um fingidor. Esquecem-se
de que a História é irrepetível: um certo momento marcado por intensidades e
propostas – por mais aloucadas e estúpidas que sejam – jamais se repete. Ninguém
conseguirá fingir o embuste Bolsonaro tão bem como ele.
A farsa pertence ao farsante,
somente ele conseguiu produzir o desastre pleno, a derrocada exata e desastrada
da tentativa de depor a democracia.
Será inútil a intentona do PL:
por mais que Michelle tente, não conseguirá atingir o as alturas da insanidade
do marido. Ele foi o magnífico farsante, o mais completo pregoeiro da desgraça –
e fez isso muito bem.
Líderes, mesmo os mais mal-ajambrados, não se
fazem nos laboratórios das agências de propaganda. É preciso ter competência
até mesmo para ser incompetente, é preciso ter o desejo sincero de ser um arremedo
de condutor e presidente.
Ela não conseguirá repetir Bolsonaro.
Falhará miseravelmente. Não tem liderança fora do seu acanhado círculo de
atuação, não tem o carisma troncho do marido, não vai chamar às ruas a desordem
e o golpismo como fez Bolsonaro. Será melhor desistir, antes de preparar a sua própria
derrota.
Bolsonaro, ao que tudo indica,
começa a passar. Todavia, precisamos ter cuidado com os restolhos que,
lamentavelmente, está acumulados, na sarjeta da História. A História não se
repete, mas pode criar novos monstros. Certamente outros, profissionais da
política, já estão de olho no butim.
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