terça-feira, 10 de janeiro de 2017

"Atenção carregador de peso, compareça à seção de abastecimento!"

Hipocrisia e exploração no mundo do trabalho

Na nova legislação trabalhista a prevalência do “acordado sobre o legislado” é um processo que instaura de forma escancarada a hipocrisia do governo Temer ante o trabalhador.
https://bibliotecaprt21.wordpress.com/tag/saude-mental-do-trabalhador/
Faz-se uma legislação que, supostamente, apenas supostamente, dá “grande liberdade” de o trabalhador de escolher sua forma de prestação dos seus serviços, vale dizer a venda de sua mão de obra.
O que ocorrerá vem em direção inversa: os empregadores, vivendo momento propício e, incentivados pelo governo, levam o intimidado trabalhador à sucumbência: o desemprego, as incertezas do amanhã, a falta de um bom sistema de saúde, a violência, o dinheiro curto, tudo isso influi pesadamente e debilita o empregado na hora da negociação.
O objetivo único é fixar um mundo do trabalho ditado por uma ética da submissão, docilizando pelo temor do desemprego o homem que já tem até mesmo sua vida pessoal precarizada. Da mesma forma que a argola domina e conduz o boi que puxa pesado carro. 
Vive-se no Brasil, de há muito, essa relação fictícia: já notou como nas grandes lojas os sistemas de alto-falantes fazem a chamada de um ou outro trabalhador ou trabalhadora? 
É assim: “Associado fulano de tal dirija-se ao setor de atendimento”, ou “colaborador sicrano compareça à gerência.” Isso é uma inversão de discurso. Uma ocultação. Na verdade o que a loja não admite é chamar publicamente alguém de “empregado” ou “empregada”, “trabalhador” ou “trabalhadora”.
Pegaria mal, ficaria bastante exposta a relação trabalhista, manifesta a situação assalariada se alguém fosse chamado: “Atenção carregador de pesos, dirija-se à seção de reabastecimento.” 
Isso tornaria a nu a relação de trabalho, retiraria o caráter de confraria que a organização deseja passar, como se ali houvesse reconhecimento e incentivo ao empregado, funcionário, trabalhador, o que seja. Busca-se esconder essa relação de domínio e direção, homem ao dispor de outro homem, operacionalmente.
A nova ética de Temer para o trabalho traz à luz, ironicamente, a exposição direta de que o objetivo é desmantelar as organizações laborais, vale dizer sindicatos e associações reivindicatórias, tornando dóceis, pelo temor, os que precisam literalmente do  pão de cada dia.

Nenhum comentário: