E aí Renan disse: "Manda quem pode; obedece
quem é juiz”
A grotesca
sessão do Supremo que manteve Renan Calheiros encalhado na presidência do Senado
foi a mais escancarada e escandalosa prova do quanto temos um país onde o pudor
se encolhe, vivemos numa terra onde ser safado é gesto, fato, valor e norma.
O açoite do Senado estalou forte
e Renan disse: “Manda quem pode; obedece quem é juiz.” E assim se fez.
Tinha razão Caetano Veloso quando
compôs Podres Poderes.
Enquanto
os homens exercem seus podres poderes
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes somos uns boçais
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes somos uns boçais
Razão também a Castro Alves, endoidecido
de liberdade ao bradar:
Existe um povo que a bandeira
empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e
cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa
festa
Em manto impuro de bacante
fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que
bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Jobim também
aborda a crueza do ser brasileiro ao dizer:
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não
queira
Gonzaga,
como eu nordestino, também comparece e narra o desvalimento do povo, a
sucumbência cabisbaixa, o homem anulado, pobre:
Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposto à garoa
A lama e o baú
Meu Deus, meu Deus
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No norte e no sul
Ai, ai, ai, ai
E os
Titãs, na palavra da Miklos, Bellottoe C.Gavin nos chegam com seu grito
rebelde, força juvenil de sabre, ponta de florete irreverente. E berram:
Estão nas mangas dos Senhores Ministros
Nas capas dos Senhores Magistrados
Nas golas dos Senhores Deputados
Nos fundilhos dos Senhores Vereadores
Nas perucas dos Senhores Senadores
Senhores!
Senhores!
Senhores!
Minha Senhora!
Senhores!
Senhores!
Filha da Puta!
Bandido!
Corrupto!
Ladrão!
Sorrindo para a câmera
Sem saber que estamos vendo
Chorando que dá pena
Quando sabem que estão em cena
Sorrindo para as câmeras
Sem saber que são filmados
Um dia o sol ainda vai nascer
Quadrado
Isso não prova nada!
Sob pressão da opinião pública
É que não haveremos de tomar nenhuma decisão!
Vamos esperar que tudo caia no esquecimento
Aí então...
Faça-se a justiça!
Estamos preparando vossas acomodações, Excelência.
Filha da Puta! Bandido!
Corrupto! Ladrão!
Nas capas dos Senhores Magistrados
Nas golas dos Senhores Deputados
Nos fundilhos dos Senhores Vereadores
Nas perucas dos Senhores Senadores
Senhores!
Senhores!
Senhores!
Minha Senhora!
Senhores!
Senhores!
Filha da Puta!
Bandido!
Corrupto!
Ladrão!
Sorrindo para a câmera
Sem saber que estamos vendo
Chorando que dá pena
Quando sabem que estão em cena
Sorrindo para as câmeras
Sem saber que são filmados
Um dia o sol ainda vai nascer
Quadrado
Isso não prova nada!
Sob pressão da opinião pública
É que não haveremos de tomar nenhuma decisão!
Vamos esperar que tudo caia no esquecimento
Aí então...
Faça-se a justiça!
Estamos preparando vossas acomodações, Excelência.
Filha da Puta! Bandido!
Corrupto! Ladrão!
Encerro aqui
minha elegia, minha tristeza, minha indignação ante tanta indignidade.
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