sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A morte como justiça; a ira como processo

A morte de Kadafi, o ritual sangrento, os gritos roucos, os urros de contentamento são a prova do quanto ainda somos cruéis e desgraçados na rota da história. 

Se uma revolução de alguma forma ganha legitimidade, exige assertividade bélica, sua consecução final com a captura do fautor dos momentos históricos que levaram à sua deflagração não deveria levar o homem à barbárie primeva de um ser básico. 

É preciso renunciar ao fogo como instituto dialogal insano, substitui-lo pela palavra quando chega o momento do uso da palavra.

Entendo que falar como falo agora, na calma do meu escritório, torna fácil esse pronunciamento. Sei que a hora faz o estado emocional, sei que o momento da Líbia era de irrupção das forças mais primitivas do instinto humano. 

Todavia, deploro o acontecimento em si: um homem caçado como um rato, como dizem muitas manchetes de jornais pelo mundo. Manchetes que ululavam de alguma forma o regozijo bruto, a estupidez humana centrada na vingança.

Os milhares que tombaram nas masmorras de Kadafi, as dores de familiares e amigos são a justificativa distante a alicerçar os atos finais dessa tragédia. 

Foram essas mortes que penetraram fundamente na alma sofrida do povo líbio. E foi aí, no grande momento escandido da história, nos 41 anos de domínio do ditador, no assassinato de inocentes nos porões lúgubres que se gestou a hora da vingança como justiça.

A mísera condição humana atuando de forma retributiva, desatinada, violenta, irracional. 

A Líbia agora, se espera, seguirá rumo diverso da era Kadafi. Mas, mesmo assim, o mundo vive um grande luto - o luto mesmo de sermos homens, falíveis, desastrados.

Um comentário: