A morte de Kadafi, o ritual sangrento, os gritos roucos, os urros de contentamento são a prova do quanto ainda somos cruéis e desgraçados na rota da história.

É preciso renunciar ao fogo como instituto dialogal insano, substitui-lo pela palavra quando chega o momento do uso da palavra.
Entendo que falar como falo agora, na calma do meu escritório, torna fácil esse pronunciamento. Sei que a hora faz o estado emocional, sei que o momento da Líbia era de irrupção das forças mais primitivas do instinto humano.
Todavia, deploro o acontecimento em si: um homem caçado como um rato, como dizem muitas manchetes de jornais pelo mundo. Manchetes que ululavam de alguma forma o regozijo bruto, a estupidez humana centrada na vingança.
Os milhares que tombaram nas masmorras de Kadafi, as dores de familiares e amigos são a justificativa distante a alicerçar os atos finais dessa tragédia.
Foram essas mortes que penetraram fundamente na alma sofrida do povo líbio. E foi aí, no grande momento escandido da história, nos 41 anos de domínio do ditador, no assassinato de inocentes nos porões lúgubres que se gestou a hora da vingança como justiça.
A mísera condição humana atuando de forma retributiva, desatinada, violenta, irracional.
A Líbia agora, se espera, seguirá rumo diverso da era Kadafi. Mas, mesmo assim, o mundo vive um grande luto - o luto mesmo de sermos homens, falíveis, desastrados.
Um comentário:
O horror!
fagner
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