segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Vai ter de explicar

O ministro dos Esportes, Orlando Silva, vai ter de se explicar à presidente Dilma quanto às acusações de corrupção. Até quando esse país vai ter de conviver com esse tipo de coisa? Eu mesmo respondo: até muito tempo mais. A corrupção está entranhada na cultura nacional; começa com o jeitinho e evolui perversamente, até chegar às suas manifestações mais lamentáveis e até mesmo requintadas. A Copa do Mundo, patrocinada com o dinheiro do contribuinte, será excelente oportunidade para a prática. Não duvide.

 Creio, porém, que todos já sabemos o resultado: muito provavelmente o ministro será exonerado. Até mesmo pelo fato de que ele ocupa uma pasta-chave para a realização da intentona da Copa do Mundo. O evento, que já se apresenta como uma cornucópia para a Fifa, renderá milhões, milhões e milhões a uns poucos e bem situados nas franjas do poder. Não duvide.

Abaixo, matéria de O Globo.


Dilma presume 'inocência' de Orlando Silva e diz que vai aguardar desfecho das investigações

Publicada em 17/10/2011 às 16h04m
Roberto Maltchik (roberto.maltchik@bsb.oglobo.com.br), enviado especialReuters Dilma defende ministro  do Esporte durante viagem à África. Foto: DivulgaçãoBRASÍLIA E PRETÓRIA (África do Sul) - A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira, em Pretória, na África do Sul, que vai aguardar o desfecho das apurações e os desdobramentos das denúncias sobre desvio de verbas para decidir o futuro do ministro dos Esporte, Orlando Silva, no governo. Segundo ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, Dilma determinou que os ministros de governo apoiem o titular do Esporte. No entanto, a presidente espera que Orlando seja "convincente" nas explicações públicas. Em evento no Rio, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, informou que a Polícia Federal vai investigar as novas denúncias no Esporte. CRÍTICA : Serra: governo virou 'central de corrupção'
INFOGRÁFICO: Relembre os escândalos no governo Dilma

- Nós, ao contrário de muita gente por aí, temos o princípio democrático e civilizatório. Nós presumimos inocência. Não só nós presumimos a inocência dele, como ele tem se manifestado com muita indignação quanto às acusações. O governo está acompanhando atentamente todas as denúncias, os esclarecimentos e as investigações. Aliás, o ministro Orlando pediu investigação da Polícia Federal, do Ministério Público Federal sobre as acusações feitas a ele e que ele reputa uma injustiça. Além disso, o ministro se dispôs a ir ao Congresso Nacional, se eu não me engano, amanhã, para fazer todos os esclarecimentos que os senhores deputados e senadores quiserem ter a respeito do assunto. Enquanto isso, o governo vai continuar acompanhando tanto qualquer denúncia que apareça quanto todos os esclarecimentos e as iniciativas de investigações - disse a presidente.

Dilma Rousseff ainda discorreu sobre as novas regras nas quais os ministros assinam os convênios, não mais os secretários-executivos. De acordo com ela, essa medida assegura maior comprometimento do titular da pasta com a regularidade das ações que estão sendo conveniadas. Antes disso, criticou os convênios do passado, alvo das acusações que pesam sobre Orlando Silva.

- O ministro, a partir de agora, é o responsável pelo convênio. Então a assinatur
a do ministro é que vai em qualquer convênio. Isso é importante ser esclarecido porque nós consideramos que em muitos momentos no passado houve convênios com ONGs mais frágeis. Isso não significa que todo o convênio com ONG é ruim. Não é verdade. Pelo contrário: Em muitas áreas, nós precisamos das ONGs para executar políticas na medida que você tem, por exemplo, na área religiosa, várias áreas filantrópicas, ONGs valiosíssimas, sem as quais, inclusive, os municípios não conseguem atender à população.

Ela ainda admitiu que os convênios com ONGs são menos formais do que os firmados com prefeituras e estados. A presidente disse ainda que a fragilidade das ONGs, apontada por ela mesma, deve ser investigada.

- Eu acho que essa é uma questão a ser investigada. O que nós detectamos é que em geral elas são menos formais do que as prefeituras e do que os Estados. Porque as prefeituras e os Estados são órgãos públicos e, portanto, têm toda uma regulamentação. Eles são acompanhados pelos tribunais, você tem que prestar contas, você tem toda uma dinâmica. A mesma coisa você teria de ter com as ONGs, só que como elas são as organizações não-governamentais, elas têm uma formalização menor. Agora eu sempre digo: não é possível fazer tábula rasa. Você tem ONGs e ONGs - completou Dilma.

Em Pretória, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, que acompanha Dilma em viagem à África, foi o primeiro a sair em defesa do colega. Segundo ele, por ora, não surgiram provas que tornem "mais claras" as denúncias que pesam contra o ministro do PCdoB.

- Vamos aguardar os fatos, e que se apresente alguma prova para que possa saber exatamente do que se trata. Seguramente, o governo vai esperar a defesa. Isso é um princípio básico da justiça. Não pode julgar quem quer que seja sem o contraditório e o direito de defesa. Ele vai ter o direito de se defender plenamente - disse Mercadante, logo após sua chegada a Pretória, capital da África do Sul e onde ocorrerá nesta terça-feira a V Cúpula do Ibas - grupo formado por Brasil, Índia e África do Sul.

Mercadante aproveitou para defender a atuação de Orlando Silva no governo, a quem chamou de um colega por quem nutre "carinho" e admiração por ter sido o arquiteto de eventos importantes, como o Pan, a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. E disse que ainda não conversou com a presidente Dilma Rousseff a respeito das denúncias. Ainda elogiou sua forma de trabalhar, "sempre em parceria".

De acordo com Gilberto Carvalho, a presidente está preocupada.
- Objetivamente, tem que ficar provado que ele não deve nada disse Gilberto à agência Reuters, depois de conversar nesta segunda-feira com Dilma. - Ele tem que ser convincente.
Por conta das denúncias, o ministro do Esporte voltou mais cedo de Guadalajara, no México, onde acompanhava o Pan-Americano. Ele se antecipou à oposição e protocolou nesta segunda-feira na Procuradoria-Geral da República (PGR) um ofício em que solicita a apuração do Ministério Público sobre denúncias de desvio de recursos do ministério.

Na reportagem da revista "Veja" desta semana, o policial militar e ex-militante do PCdoB João Dias e o motorista Célio Soares Pereira acusam o ministro Orlando Silva de receber dinheiro - que deveria ser empregado no programa Segundo Tempo - desviado de ONGs. O ministro foi apontado como mentor e beneficiário desse esquema. O policial disse na reportagem que as entidades só recebiam recursos se houvesse o pagamento de uma taxa de até 20% do valor dos convênios.

Ainda segundo a denúncia, o PCdoB indicaria os fornecedores e as pessoas encarregadas de conseguir notas fiscais frias. Célio Soares Pereira contou que entregava dinheiro pessoalmente a Orlando Silva na garagem do ministério. Em oito anos, o esquema teria desviado R$ 40 milhões.

O ex-militante do PCdoB não deu trégua ao ministro e, ainda no domingo, publicou em seu blog uma mensagem em que chama Orlando Silva de bandido. Num tom autoritário e sem meias palavras, o soldado sugere ao partido ficar calado antes de sair em defesa do ministro. Orlando Silva negou as denúncias e disse que Dias Ferreira terá que provar suas acusações à Polícia Federal.
O Ministério Público de São Paulo suspeita também que uma organização não governamental recebeu R$ 28 milhões do Ministério do Esporte para o programa Segundo Tempo esteja envolvida em desvio de dinheiro público e beneficiando políticos do PCdoB. Segundo denúncia do "Fantástico", da TV Globo, há indícios que a ONG Pra Frente Brasil, gerenciada pela ex-jogadora de basquete Karina Valéria Rodrigues, tenha contratado empresas de fachada para fornecer lanche e material esportivo, com participação "de laranjas".

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/10/17/dilma-presume-inocencia-de-orlando-silva-diz-que-vai-aguardar-desfecho-das-investigacoes-925594970.asp#ixzz1b47dgxVL
© 1996 - 2011. Todos os direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A.

Nenhum comentário: