quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Tenebrosa alegria

O massacre do dinheiro público tem início em Natal -foto Rodrigo Sena (Tribuna do Norte)
As manchetes troam cânticos tremendos à destruição do Machadinho, cujo corpo de cimento e aço cai, despedaçado, sob o peso do ataque de máquinas ciclópicas a serviço da intentona Copa do Mundo. Natal começa a trilhar a senda escura do descalabro do dinheiro púbico - que fará falta à saúde, à educação, à segurança - vertido à larga na construção da Arena das Dunas, cuja imponência faria inveja a Ramsés II.

A dívida que se contrai em nome do povo é parte desse projeto de alcance nacional, um panis et circensis que oscila entre o desvario e a inconsequência dos atos dos governantes. Estes disseram ao povo que o povo precisava desse estádio e o povo em consenso passivo disse sim, que precisava da arena para viver feliz. 

O mundo inteiro teme uma crise, o desequilíbrio da economia, mas aqui não: está tudo bem e há dinheiro para se gastar à tripa forra. A cultura brasileira, que alerta a todos os tamborins para a festa, e alardeia em todos os terreiros que é preciso cultuar a alegria, ferve de expectativa ante a promessa de uma era fabulosa: a Copa do Mundo terá o condão mágico de resolver todos os problemas nacionais, de nos levar a um tempo novo e vertiginoso de realizações e maravilhas. Quando a bola rolar estaremos ingressos à felicidade a data certa.

Cai o Machadinho, que, dizem as coisas de jornal que li, fora muito pouco utilizado para esportes, servindo mais a espectáculos musicais. Era uma inutilidade, com o teto cheio de goteiras. Se o ginásio, que não era monumental, ficou assim, o que se dirá da Arena das Dunas de proporções monumental-suntuosas? Se não se cuidou bem do menor, como se cuidará bem do soberbo, do impressionante estádio?

Mas tem início a tenebrosa alegria e todas as suas consequências. Tem início, para o povo do Rio Grande do Norte, o erguimento do portento cujo preço as gerações haverão de arcar como herança onerosa.

Nenhum comentário: