Leio esta matéria na Folha e comento abaixo.
Documentos mostram ligação de Gaddafi com serviço secreto dos EUA
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Documentos descobertos em um prédio do governo líbio revelam ligações
estreitas entre os serviços secretos dos Estados Unidos, a CIA, e do
Reino Unido, o MI-6, e os serviços de inteligência do regime do ditador
Muammar Gaddafi.
Segundo informações publicadas pelo jornal "The New York Times", os
documentos, achados na sede de um órgão de segurança em Trípoli, apontam
que em ao menos oito ocasiões o serviço de inteligência americano
enviou suspeitos de terrorismo para serem interrogados na Líbia -- país
famoso por sua reputação com torturas -- dentro do controverso programa
de "rendição".
Em 2004, durante o governo de George W. Bush (2001-2009), a CIA
estabeleceu "uma presença permanente" na Líbia, diz uma mensagem de
Stephen Kappes, um dirigente da CIA, dirigida a Mussa Kussa, chefe dos
serviços de inteligência líbios entre 1994 e 2009.
Segundo o jornal "The Wall Street Journal", a mensagem começa com "Querido Mussa" e está assinada por "Steve".
Em Londres, o jornal "The Independent" publicou informações similares
sobre ligações entre os serviços líbios e britânicos na mesma época.
OPONENTES DO DITADOR
Segundo o diário britânico, os documentos revelam, entre outras coisas,
como detalhes privados de oponentes do ditador líbio exilados na
Inglaterra foram passados ao regime de Gaddafi pelo MI-6.
Além disso, autoridades britânicas teriam ajudado a redigir a minuta de
um discurso para Gaddafi quando este decidiu há alguns anos abandonar o
apoio a grupo terroristas e colaborar com o Ocidente.
Outros documentos revelam que EUA e Reino Unido atuaram em nome da Líbia
nas negociações deste país com a Agência Internacional da Energia
Atômica (AIEA).
Os despachos secretos foram descobertos na sexta-feira por membros da
Human Rights Watch (HRW), que o entregaram à imprensa. Segundo o "New
York Times", a maioria está escrito em árabe, mas alguns estão em
inglês, com as marcas da CIA e do MI-6. O jornal admite que não foi
possível verificar a autenticidade dos documentos.
Procurada pelo "New York Times", a porta-voz da CIA, Jennifer
Youngblood, não quis comentar o conteúdo dos documentos. Mas disse que
não é surpresa que a agência de inteligência "trabalhe com outros
governos para ajudar a proteger [os EUA] de terrorismo e outras ameaças
mortais".
Acordos secretos, ações reprováveis
A descoberta dos documentos comprova a hipocrisia, os acertos às escondidas. Coisas que, na politica, na política como ação voltada para a ascensão ou manutenção do poder, é marca registrada: seja na mesquinharia da disputa por um carguinho de terceiro escalão, seja no campo amplo, plural - e brutal - do que deveria ser a grande política: as decisõe nacionais, o compromisso ético e histórico com o destino do Homem.
Fica exposta, ao que parece, as ligações de potências ocidentais com um ditador que tinha a tortura como prática em sua política. Todavia, o discurso do Ocidente está sempre alinhavado a assertivas que têm como valores-mestres coisas como a Liberdade, a manutenção de um status quo de aparente defesa da Vida, a Equidade.
Ledo engano: a questão de fundo pode ser encontrada tão-somente na garantia de interesses das nações poderosas, que não se recusam a alinhar-se com sistemas de poder mais atrasados e sanguinários. E temos revelada, tudo indica, a ligação com a Líbia de Kadaffi.
Na sequência veio o apoio à luta contra o mesmo Kadaffi, agora alegando-se a necessidade de proteger os direitos humanos, quando se sabe que o fim é o ambicionado petróleo do solo líbio. É isso: em nome da Liberdade garante-se a escravidão. E a política, que deveria ser fator de civilidade, se transforma e se transtorna em opressão, acordos e negociatas. Aqui e, premita-me, algures. Na mesquinharia mais rasteira da nomeação de um parente ou na escala mais alta dos conflitos. É a condição humana. Arre!
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