sábado, 7 de maio de 2011

A alegria dos desgraçados

Talvez devido às minhas limitações, que são muitas e muito grandes, não tenha percebido o grande valor, importância histórica e relevância social que constituem o cerne da construção da Arena das Dunas, o presumido local onde o Rio Grande do Norte terá a honra de receber jogos da Copa do Mundo. Certamente devido a essas limitações não tenha compreendido o motivo, o porquê da construção desse estádio, bem mais relevante que, por exemplo, a implementação de uma política de saúde consistente ou um sistema de educação público que atenda às demandas do setor. 

Sem dúvida, encher a boca do povo com gritos de gol é mais importante que atender a reclamos históricos, é mais desejável que suprir as fomes sociais e promover a partilha das riquezas, tornar o PIB referente econômico de que tudo o que foi produzido terá destinação voltada a aplacar a sede de justiça. Ao que vejo, mais vale atender aos apetites de uns poucos, exatamente aqueles que lucrarão horrores com a construção desse estádio, que a busca da promoção do bem-comum.

As minhas limitações, perplexas, me chamam e me dizem que estamos todos incorrendo numa grande, ilimitada loucura. Uma loucura que provoca consenso e garante que, sim, construir um campo de futebol faraônico é algo imprescindível a Natal: primeiro, porque vamos ser alegres por alguns dias, saciados, empanturrados de futebol; segundo porque, pelo miraculoso espetáculo a ser proporcionado, todos os problemas da cidade serão solvidos nessa maravilhosa poção que envolve e mistura interesses políticos, ganância dos investidores e embotamento das massas.

Essa Copa do Mundo, dizem-me as minhas limitações, é uma intentona, um fato monstruoso; seja pelas suas próprias dimensões ciclópicas, seja pelos interesses perversos que se ocultam em seu manto poderoso e desvairado, oportunista e cheio da gana. 

Mas a plateia foi adestrada e quer, pensa que quer e assim quer pensar, em função desse adestramento, que é mais importante um campo de futebol que um hospital que seja digno desse nome - só para ficar nesse exemplo. Então, se é assim, que venha o circo. Depois, os palhaços não reclamem da tragédia que está sendo montada.


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