"Isso não é democracia; isso é vandalismo." A afirmativa é de um sofrido e amargo homem, idoso, já bem mais de 60, a respeito da medicina que o Estado brasileiro oferta, ou melhor, impõe, impinge, é o que quero dizer, ao povo. O rápido testemunhal foi feito ao Globo Repórter de ontem, numa das mais sérias, dignas, corajosas e incisivas manifestações de jornalismo que já vi.
Imagem ilustrativo-metafórica da situação dos hospitais públicos no Brasil: o povo tratado a ferro frio |
O programa foi uma poderosa ação editorial, sob a competência de equipe de profissionais irretocável. A edição ampliava o efeito da denúncia, magnificava a dor, o desespero, a angústia das vítimas desse tipo de assistência - se é que isso é assistência.
Creio que a eficácia editorial do programa, ou seja, sua repercussão, efeito de choque sobre os responsáveis, poderá ser mensurada em alguma declaração do Ministério da Saúde, o que dizem as autoridades setoriais, como se sentem diante do quadro que, digamos assim, administram. Sobre a sociedade, tenho para mim, essa eficácia já se processou: a indignação que sinto certamente é compartilhada por muita gente Brasil afora.
Mas temo que fique nisso mesmo: indignação social, paralisia do governo; perplexidade do cidadão, silêncio pesado de quem deveria agir. No fim, o dinheiro que deveria ser para construção, reforma ou restauração de hospitais irá para a construção de estádios de futebol. O pão e o circo, o pão e o circo. Que bom, que bom...
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