Alencar: o enterro de um grande morto
O enterro dos grandes mortos é um langor público e profundo. Há uma sinceridade momentânea que grita e quer ser ouvida por todos os jornais. É como se o grande morto reunisse em si todas as saudades dos vivos que deixou para trás, e as homenagens fúnebres, rituais, reverentes, compungidas, dessem à multidão que chora, de alguma maneira chora - chora o corolário de mágoas do existir, chora a hora derradeira de todos nós, chora a perplexidade daquele corpo morto - dissessem àquele que deixou de habitar o corpo que sua figura tinha algo de mítico, antepassado. O cerimonial, em sua matriz mais avoenga, é a repetição do gesto do hominídeo ancestral que urrava ante um corpo que, paralítico de vida, ele agitava, perplexo e inutilmente, buscando trazê-lo de volta ao grupo.
As homenagens a José Alencar não fogem ao padrão. O homem público, agora elevado à condição de desamparo coletivo, agrega à sua condição de grande morto o fato pesaroso de que jamais voltará. Torna-se no noticiário um ser único e, no jornal, encobre as demais informações, como diz Maurice Mouillaud. O fim de um grande homem torna-se o enigna da vida, do viver em sociedade; o enigma do seu discurso, da utopia que defendia, qualquer seja essa utopia, excelsa ou chã, o reveste como armadura histórica e imutável.
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