sábado, 19 de dezembro de 2009

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Os marqueteiros, os candidatos, Antônio Conselheiro e o povo a dois passos do Paraíso
Emanoel Barreto

A proximidade das campanhas eleitorais trará de volta à cena a figura do marqueteiro. No Brasil e em outras plagas socialmente complexas como os Estados Unidos, esses personagens avultam como seres demiúrgicos. Apresentam-se como dotados de esotéricas sabenças de psicologia de massas e são tidos como dominadores de miraculosas técnicas de convencimento, acionadas a partir do conhecimento das necessidades e ansiedades do entidade coletivo-histórica a que se chama povo.

Dominam a tecnologia da informação propagandística e se apresentam como áugures, adivinhos do futuro próximo, podem nele influir e mudar os rumos da história. O marqueteiro é um deus ex machina. Os candidatos os reverenciam e os pagam a peso de ouro.

Vejamos dois registros.

Primeiro:"Por trás do sucesso da campanha do senador Barack Obama está David Axelrod, um marqueteiro político que se especializou em tornar candidatos negros atraentes para grandes fatias do eleitorado. Axelrod, com seu bigode farto e jeitão informal, é considerado o melhor estrategista político fora do eixo Washington-Nova York" - a campanha de Obama, antes de se consolidar como candidato, nas palavras de Patrícia Campos Mello em seu blog "Controvérsia.

Segundo: Lígia Hougland, no Portal Terra, detalha: "Até poucos anos atrás, o americano Ben Self era o típico nerd. Especialista em ciência da computação, trabalhava nos departamentos de tecnologia de companhias do setor bancário e de seguros. Em 2008, ele se uniu à equipe de Barack Obama e revolucionou o mundo das campanhas eleitorais ao usar a internet como principal ferramenta para promover o candidato democrata à Casa Branca. Self e sua empresa, a Blue State Digital, foram responsáveis por levantar mais de US$ 500 milhões online para a campanha do primeiro presidente americano negro - 66% do capital total arrecadado. Aos 32 anos, o especialista em ciência da computação é conhecido mundialmente por ser o mais eficaz marqueteiro para os políticos que sonham alto."

As duas transcrições traem um elogio profundo ao marketing eleitoral, reverência até mesmo de quem o deveria ver sob angulação crítica. O marqueteiro é um mago e estamos conversados. Sobre o taumaturgismo há pouco referido, diz o Houaiss: o taumaturgo é "o artesão divino ou o princípio organizador do universo que, sem criar de fato a realidade, modela e organiza a matéria caótica preexistente através da imitação de modelos eternos e perfeitos".

Sim, o marqueteiro, sem criar de fato a realidade, a modela e organiza de forma a que seu candidato seja visto como a solução do caos, uma vez que tal candidato é um modelo eterno e perfeito e a tudo resolverá. O marqueteiro convence a patuléia inculta e ignara que a simples eleição de uma pessoa reverterá para sempre todas as mazelas sociais e o povo, em alegre alarido, ingressará numa idade de ouro onde haverá nas torneiras leite e mel.

Prepare-se: logo logo, em 2010, que já está bem perto, surgirão na TV e na internet a realização de todos os sonhos. Os marqueteiros serão os novos antônios conselheiros. E a seus candidatos o povo deve seguir com fé, pois está a dois passos do Paraíso.


Um comentário:

zcarlos disse...

Caro Emanuel,
Vc deixou um comentário no meu blog e agradeço.
Visitei seu blog e gostei muito.
Espero que não se aborreça, mas reproduzi este seu comentário no ContextoLivre, muito bom.
Um abraço,
zcarlos