quinta-feira, 17 de dezembro de 2009



Twiggy em imagem nos anos 60 e, (acima), hoje (O Globo)
Quando era normal ser diferente e quando é normal ser falsificado
Emanoel Barreto

Twiggy, nos anos 1960, era um nome de modelo que acirrava discussões e estimulava um estilo de vida, cult entre as meninas. Afinal, estávamos em uma época em que ser divergente era ser normal. Muito mais que uma meninota que vendia vestidos e modismos ela era sinônimo de transgressão. Era uma pessoa icônica. Vendia moda? Sim. Mas, ela própria era uma espécie de marca comportamental, representava uma atitude.
O tempo passou; Twiggy, magérrima, envelheceu, sumiu, engordou. Agora, volta à cena como uma velhota de 60 anos assanhada. Só que, ao contrário do tempo em que representava transgressão, busca vender produtos que façam a mulher já entrada em anos sentir-se mais jovem - que ser jovem hoje é obrigação ditada pelo mercado. Para tanto, valem desde os enchimentos de silicone até produtos para a pele.
Nas fotos lado a lado, vê-se como ela está hoje. As imagens são parte de campanha publicitária de um creme antirruga. A comparação entre a da direita com a da esquerda sugere que basta seu uso para a mulher, milagrosamente, tornar-se mais jovem.
A veiculação estava sendo feita na Inglaterra e foi, claro, proibida por ser inegavelmente uma fraude, já que a Twiggy mais jovem é resultado de tratamento digital aplicado à foto. Síntese da questão: o mercado, o velho mercado, se utilizava da figura de uma jovem esguia para promover vendas mediante atitudes que pareciam discrepantes. Agora, pega a mesma jovem, envelhecida, para continuar a vender. A ilusão, ao que parece, é mesmo a essência nossa sobre a Terra.

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