quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Foto: capa do LP, sem créditos
Quando a canção vira sussurro e o piano chega em ondas marulhadas
Emanoel Barreto

Assinei, há muit'anos, 1994 para ser exato, uma revista especializada em música. Já não lembro o título da publicação. Mas era muito boa. Textos preciosos, temas seletos, bela diagramação. Os assinantes tinham direito a receber discos de jazz. Com a primeira e única edição que me chegou às mãos vieram sete CDs em capa de papelão, reproduzindo obras de Pinky Wainer, filha do jornalista Samuel Wainer, polêmico e genial.

Esses discos ficaram por aí, nos meus guardados. A bem dizer, ouvi-os poucas vezes. Há uns dias, resolvi reencontrar esses discos, esses amigos mágicos que, como os livros e os instrumentos musicais, são seres vivos, pelo menos para quem os sabe viver.

Encontrei, no CD destinado ao swing jazz, uma pequena pérola na voz de uma diva: Carmen McRae. Intensa, coleante. Interpretação tecnicamente perfeita, com exato, total, completo e infinito domínio de voz. Tons, semitons e síncopes. Tudo perfeito. As síncopes, essas então, chegam a ser vertigem; quem sabe, a voz de uma fada verde, absinto a meia-luz.

Falo da composição "Send in the Clowns", de S. Sondhein. Tema complexo, dificílimo, muitos e muitos acordes acompanhando uma voz felina. O piano, pianíssimo, soando como campânula de prata. Baixinho... Uma obra prima em sagração do êxtase, quando a canção vira sussurro...


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