sábado, 12 de dezembro de 2009




Fotos: Emanoel Barreto

encontro com Djalma Maranhão
Emanoel Barreto

Hoje acordei numa espécie de déjà vu: máquinas na rua, em frente à minha casa. Homens trabalhando para instalar o sistema de drenagem, em Capim Macio. Mas, e o déjà vu? É o seguinte: certa vez, Djalma Maranhão prefeito de Natal, idos de 1961, 62, amanheci desperto por um barulho terrível, monstruoso ronco que, à minha sensação de menino, seria algo como um dragão atacando o meu castelo, quer dizer, a minha casa.

Na verdade, era o desvio dos ônibus, que deixavam de circular pela Rio Branco, que estava sendo asfaltada, atirando-se pela Princesa Isabel, onde eu morava. Dias e dias assim, até que a obra ficasse pronta e a minha pacífica rua voltasse a ser sinceramente calma e pacífica, como o eram as ruas de Natal nos anos 60.

Agora, o ronco de uma máquina rasgando o chão para soterrar as manilhas não me apavorou. Alegrou. Afinal, estarei livre das inundações, afinal deixarei de me sentir como Noé a cada inverno.

Mas o déjà vu levou-me a passear a memória até Djalma Maranhão. Nunca o vi, a não ser em fotos. Mas, dele, tenho sempre uma lembrança boa. Uma espécie de saudade mansa de alguém a quem não conheci, mas que me abraça e me diz que ele era um político para quem decência era sinônimo de essência, e isso o fazia ser um prefeito que amava, sem medo e sem mácula, a sua cidade Natal.

Sinto que encontrei Djalma hoje de manhã. Não, nada a haver com a "Ronda dos Fantasmas", radioteatro de terror que a Rádio Cabugi produzia magistralmente uma vez por semana. Nada disso. Foi uma espécie de reencontro com coisas, memórias, lembranças esquivas que moram em mim. E esse encontro foi como se ele estivesse dizendo: "Ei, menino! Não tenha medo. Dragões não existem. E eu continuo cuidando de Natal..."

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