domingo, 24 de agosto de 2008

Ave Zeus, dai-me a vitória...

Caras Amigas,
Caros Amigos,
A disputa em um esporte, coletivo ou não, pode ter muitas leituras. A primeira, e exatamente a mais simplista, é aquela que encara o esporte pelo esporte e vem dos torcedores, dos jornalistas especializados nas diversas modalidades, das pessoas em geral. Um jogo é um jogo e pronto; uma maratona é somente isso: heróica e tensa, mas tão-somente um conjunto de jogos.

Todavia, num esporte, especialmente quando elevado à condição de representar grandes contingentes humanos, como torcidas de grandes clubes ou até mesmo países, assume conotações dramáticas monumentais e trazem em sua essência a grande tragédia humana.

Vejamos uma olimpíada. Quantas esperanças, anseios, desejos de auto-superação, vontades de nações em aparecer brilhando. Quantas compensações, íntimas ou nacionais, não estarão aí contidas.

É o atleta queniano superando a miséria de onde foi gerado, para se lançar ao mundo como o novo Fidípides, o herói das tropas da Alexandre. Ele correu 42 quilômetros e uns tantos metros, para comunicar aos compatriotas gregos a vitória sobre os persas na planície de Maratona, que hoje mais mais existe. Informou sobre o triunfo glorioso e depois morreu...

É a Seleção brasileira feminina de futebol chegando ao esforço último de todas as fibras vivas de suas atletas, para ser injustamente derrotada pelas americanas.

Especialmente nos esportes coletivos os jogos ganham uma dimensão simbólica de guerra. Usa-se da tática e da estratégia. Os corações dos atletas vibram num diapasão diferente: eles não lutam por um gol apenas, mas lhes está inculcado que lutam pela pátria; lutam pela glória, a passageira imortalidade de algumas manchetes.

O dado dramático do esporte, sua face tragédia sintetiza e encena a batalha humana no mundo da vida; a incerteza, o medo, o próximo passo, os desvãos e ravinas do existir nesse planeta. É o combate pela sobrevivência, a busca pela superação dos limites humanos, uma forma estética e enérgica de enfrentar obstáculos e desafios.

O esporte é tudo isso e é também política e ideologia. O Poder dele se utiliza para crescer e se tornar ainda mais poder. Geralmente, não há morte nesses combates cifrados e plenos da mais íntima perplexidade; mas o homem, pequenino e trêmulo, morre a cada momento de derrota. Logo ele, que antes dos jogos, orava em seu silêncio escuro: "Ave Zeus, dai-me a vitória..."
Emanoel Barreto

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