segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Morre El Jefe Pinochet: da cinzas à cinza; do pó ao pó

Morreu ontem, Dia Internacional dos Direitos Humanos, El Jefe Augusto Pinochet, que durante 17 anos fez do Chile um país sitiado pelo terror e pelo ódio aos mais mínimos princípios da democracia. Se a história lhe foi irônica ao marcar sua morte no dia em que, em essência, se comemora a dignidade humana, algo que o general desprezava, também lhe foi implacável pelo lado afetivo, pois ontem também se comemoravam os 84 anos de sua mulher, Lucía Hiriart Rodríguez.

O que se viu ontem, com a morte de Pinochet em tais circunstâncias, em que as coincidências tornam ainda mais dolorosas para seus seguidores as condições em que se deu seu fim? A pura e simples demonstração da triste condição humana. Aquele que foi o todo-poderoso, o tirano que impunha terror como norma de estado, o general que ordenava a morte de pessoas sem pestanejar, foi afinal fulminado e mergulhou seu nome sombrio nos registros implacáveis da História.

Seus admiradores o têm na conta de uma espécie de déspota esclarecido, um homem que deu rumo à economia do Chile. Mas os familiares de milhares de homens e mulheres, velhos ou jovens que tombaram sob o peso dos sabres da opressão, entendem bem o que seja a acepção estrita e bruta da palavra ditadura.

Foi sob Pinochet que desenvolveu-se a partir do Chile a Operação Condor, que reunia numa espécie de força-tarefa da morte os sistema de repressão dos países do cone Sul, para a captura e troca de prisioneiros políticos. Houve também a sinistra caravana da morte, onde batalhões percorriam prisões e locais onde estavam presos oposicionistas e simplesmente os executavam.

Ontem, multidões barulhentas acorreram às ruas de Santiago e outras cidades para comemorar, com brindes de champanhe, vinho e cerveja, a morte do Jefe. Seu corpo será cremado e as cinzas entregues à família. Somente em quartéis e repartições militares as bandeiras ficarão a meio pau.

Mesmo comemorando, o Chile secretamente chora os mais de três mil mortos e desaparecidos. E entidades internacionais de direitos humanos reclamam que seres como ele não sejam punidos, tais os entraves legais.

De qualquer maneira, foi-se Pinochet. Seu corpo prestes e virar cinzas. Da cinza à cinza; do pó ao pó.

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