terça-feira, 19 de dezembro de 2006

A condição humana

Uma notícia chamou-me a atenção em especial, ao ler os jornais na internet. a desesperadora situação de Mateus, de oito anos, que passou oito dias preso num buraco de um metro e meio de diâmetro e seis de profundidade.

Alimentava-se de lama e capim e à noite, para suportar o frio, se cobria com lama. Foi resgatado domingo último. Os pais, até a leitura da matéria por mim, não o haviam ido buscar no hospital para onde foi levado, em Goiânia. O buraco , armadilha silenciosa e estática, fora escavado num terreno que fica a
15 quilômetros de Goiânia.

São surpresas assim, acontecimentos assim, que se postam ante nossas vidas, que nos fazem pensar na triste e pobre, maravilhosa e extasiante, miserável e grandiosa condição humana. O ser humano é possuído e possuidor da grandeza e da decadência. Age e destrói. Assim como pode ser alvo da ação da natureza e por esta destruído. Afora o fato de que traz em si mesmo sua última destruição, a própria morte.

Estamos sujeitos à álea, aos imprevistos. Pensamos que a vida, os acontecimentos, seguem um rumo normal e reto, quando na verdade tudo é ilusão.

O que há são construtos mentais. Esquemas mentais decorrentes do pensar coletivo, que permeia todo o grupo do qual se faz parte. E assim, quando o menino Mateus, ao correr pelo terreno para cortar caminho e chegar à sua casa mais rápido, imergia ali no seu sentido de realidade, na sua sensação de normalidade: foi pego e tragado pelo chão aberto e soube aí o perfeito sentido da palavra solidão. Gritou até acabar a voz.

E então entrou no doloroso e terrível momento da espera. A álea, a moira, o fizeram afundar na terra. Agora, está num hospital à espera do pai adotivo e da mãe, que não apareceram. O ser humano é alguém em processo. Para quê? Essa é uma pergunta que ronda a humanidade há milênios.

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