"Quando você elimina o impossível o que sobra, por mais incrível que pareça, só pode ser a verdade." Arthur Conan Doyle A publicidade brasileira está consolidando uma visão caricata e cruel da velhice. Não são poucos nem raros os comerciais que apresentam os idosos, sejam homens ou mulheres, como seres existencialmente ressequidos, etariamente ridículos, comportamentalmente risíveis e humanamente desprezíveis. Sabe-se que o discurso publicitário tem um tom autoritário, que se disfarça pelos meandros estilístico-visuais da sedução e do convencimento das mensagens. A não ser nos casos em que a campanha publicitária esteja voltada para o público da terceira idade, por exemplo vacinação contra a gripe, geralmente predomina uma mensagem em que o velho aparece sob a tipificação de literalmente um idiota. E isso por oposição à mensagem-padrão, que é o endeusamento da juventude como uma situação a que todos devem almejar. Simples: o quê ou quem não seja jovem, saudável, audaz e belo, terá, por conseqüência inversa, a situação de velho, portanto indesejável. Ocorre que a última faceta do discurso publicitário, seu autoritarismo, sempre mandando o publico consumir algo, senão estará out e portanto à margem da vida, traz oculta a verdadeira intenção da mensagem: em verdade não se elogia a juventude ou ou jovem; busca-se seu convencimento à aquisição de um determinado bem ou serviço. Em última instância, a utilização desse jovem como massa de consumo via ilusão de elogio à essa mesma condição de jovem. E, caindo no que já havia dito antes, sobra ao velho o papel de ser idiota, alguém a ser estigmatizado, papel de embrulho já usado e agora descartável. Trata-se de uma forma de comunicação de massa cruel, merecedora de todo o repúdio. Um anúncio televisivo de que me recordo agora diz respeito à marca Vitarella. No comercial, um velho é chamado a degustar um biscoito. Mas é exposto como surdo, entende tudo errado e se coloca numa situação absolutamente ridícula, ao ser perguntado sobre uma coisa e responder outra. No Brasil não se respeita a experiência e a vivência dos idosos. Que pena: deve ser por isso que nesse país se faz tanta besteira. |
"Não é justo alguém ter o direito de ter uma empresa de aviação e outro não ter o direito de comer um pão." /////// JAMAIS IDE A UM LUGAR GRANDE DEMAIS. A UM LUGAR AONDE NÃO TENHAIS CORAGEM DA IMENSIDÃO - EMANOEL BARRETO - NATAL/RN
quarta-feira, 31 de maio de 2006
O ocaso vestido de ridículo
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Um comentário:
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