quarta-feira, 31 de maio de 2006

O ocaso vestido de ridículo

"Quando você elimina o impossível
o que sobra, por mais incrível
que pareça, só pode ser a verdade."
Arthur Conan Doyle


A publicidade brasileira está consolidando uma visão caricata e cruel da velhice.
Não são poucos nem raros os comerciais que apresentam os idosos, sejam homens ou mulheres, como seres existencialmente ressequidos, etariamente ridículos, comportamentalmente risíveis e humanamente desprezíveis.

Sabe-se que o discurso publicitário tem um tom autoritário, que se disfarça pelos meandros estilístico-visuais da sedução e do convencimento das mensagens. A não ser nos casos em que a campanha publicitária esteja voltada para o público da terceira idade, por exemplo vacinação contra a gripe, geralmente predomina uma mensagem em que o velho aparece sob a tipificação de literalmente um idiota.

E isso por oposição à mensagem-padrão, que é o endeusamento da juventude como uma situação a que todos devem almejar. Simples: o quê ou quem não seja jovem, saudável, audaz e belo, terá, por conseqüência inversa, a situação de velho, portanto indesejável.

Ocorre que a última faceta do discurso publicitário, seu autoritarismo, sempre mandando o publico consumir algo, senão estará out e portanto à margem da vida, traz oculta a verdadeira intenção da mensagem: em verdade não se elogia a juventude ou ou jovem; busca-se seu convencimento à aquisição de um determinado bem ou serviço. Em última instância, a utilização desse jovem como massa de consumo via ilusão de elogio à essa mesma condição de jovem.

E, caindo no que já havia dito antes, sobra ao velho o papel de ser idiota, alguém a ser estigmatizado, papel de embrulho já usado e agora descartável. Trata-se de uma forma de comunicação de massa cruel, merecedora de todo o repúdio.

Um anúncio televisivo de que me recordo agora diz respeito à marca Vitarella. No comercial, um velho é chamado a degustar um biscoito. Mas é exposto como surdo, entende tudo errado e se coloca numa situação absolutamente ridícula, ao ser perguntado sobre uma coisa e responder outra.

No Brasil não se respeita a experiência e a vivência dos idosos. Que pena: deve ser por isso que nesse país se faz tanta besteira.

Um comentário:

Anônimo disse...

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