segunda-feira, 10 de abril de 2006

Não adianta fugir, ninguém pode se esconder

"O Grande Irmão
zela por ti."
(Do livro 1984, de George Orwell)


Temor ao dar qualquer passo, insegurança até em casa, vigilância sutil, domínio silencioso. Assim deverá ser o mundo em futuro bem próximo. Sua vida pode ser vigiada, acompanhada, segredos pessoais devassados, hábitos personalíssimos conhecidos. Tudo como conseqüência de um simples acesso à internet.Veja o que pode acontecer, e o que já está acontecendo, no artigo que transcrevo abaixo, intitulado "A sedução dos serviços gratuitos".

Empresas da web oferecem ferramentas online sem pagamento, mas comercializam dados pessoais dos internautas.
David H. Freedman - Newsweek


Uma amiga tira uma foto sua com o celular e o coloca na bolsa. O aparelho, ainda ligado, descobre quem você é e envia a informação junto com sua localização para uma empresa que arquiva o dado com outras informações pessoais. Assim, um indivíduo pode pagar à firma para lhe encontrar e ser notificado da sua proximidade.
A empresa pode ser o Google, Yahoo ou Microsoft. Nenhuma rastreia as fotos do celular, mas elas o seguem de outras formas e lucram com isso. A idéia é fechar o cerco para, em cinco anos, conhecer seus movimentos, amigos, interesses, compras e correspondências. Com isso, ajudariam os marqueteiros a ganhar dinheiro.

A posição do usuário determinará o futuro da computação. Google e outros gigantes da web criarão uma constelação de produtos baseados nos seus dados pessoais e apostam que você trocará as informações pelos benefícios. Mas, ao cooperar, perderá grande parte da sua privacidade - e talvez mais.

Com o detalhamento dos nossos arquivos, fica fácil registrar crenças políticas, históricos amorosos, hábitos embaraçosos e pequenos delitos. O risco é o de ser perseguido rotineiramente por isso. Ou pior: temer embarcar em comportamentos que possam ser controversos.

- O que acontecerá no campo da privacidade nos próximos 10 anos terá implicações profundas em como nos relacionamos social, econômica e politicamente. Não deveríamos entregar tão fácil nossos dados para o mercado - explica Jerry Kang, professor de Direito da Universidade da Califórnia.

O Congresso americano estuda leis que tornariam ilegais a coleta e partilha de informação pessoal na internet ou por celular sem aviso e permissão claras. Esse tipo de restrição já existe em parte da Europa.

Mas os esforços parecem fadados a falhar. Uma nova geração de consumidores, adolescentes, cresce sem medo de entregar informações sobre si no Orkut, blogs e fotologs.

O diretor de Pesquisa do Yahoo, Prabhakar Raghavan, diz que a ''rede sensível'' coletará e tratará as informações.
Como mágica, ela entende o que você quer e o atende na hora e lugar certos, em PCs, rádios ou celulares.

Marissa Mayer, vice-presidente de Busca e Experiência do Usuário do Google, espera o dia em que possa falar ao carro que quer ir a um restaurante francês ou pedir à TV que faça o download de um filme.

- Qualquer computador me ouvirá e tomará ações relevantes para mim na internet.

As tecnologias para tal estão chegando. Muitos celulares já identificam onde o usuário está. Na Ásia e Europa, os telefones móveis são cartões de crédito sem fio. As empresas podem rastrear suas compras e indicar promoções, como a de um prato no restaurante da esquina.

Para evitar ser rastreado, não adianta desligar o celular. Nos Estados Unidos, cerca de 25 mil câmeras de vigilância já estão instaladas em locais públicos e privados e aumentam em 2 milhões por ano. Em cidades européias como Londres, é difícil caminhar na rua sem ser fotografado de vários ângulos. E, em cinco anos, não será mais preciso um humano para reconhecer o sujeito na imagem.

- A rede saberá tanto de você como um amigo próximo - avisa Michael Gold, pesquisador no SRI Consulting Business Intelligence, na Califórnia.

Grandes redes sem fio, chips com transmissão por rádio e telas de vídeo tornarão os produtos na prateleira e na casa em ''objetos inteligentes''. O pacote de cereal no supermercado o informará, por um visor, que seu estoque em casa acabou.

- Se a rede sabe onde você está e a caixa é conectada a ela é fácil gerar a mensagem - afirma o professor de Engenharia Elétrica da Universidade de Princeton, nos EUA,

Em cinco anos, a maioria dos cidadãos receberá informações personalizadas ao andar na rua. Pode ser um alerta no celular avisando que seu amigo está na cidade ou pelo som do carro de que uma loja próxima tem uma ótima promoção.

O envio de anúncios diários baseados nos dados pessoais é a a única forma que Google, Yahoo e outras empresas têm para ganhar dinheiro, já que estamos mimados por serviços gratuitos delas.

- Cobrar uma mensalidade por um serviço online é uma boa forma de perder 90% dos consumidores. A atenção humana é sempre rentável - afirma Steve Jurvetson, diretor da Draper Fisher Jurvetson, empresa de investimentos de risco em alta tecnologia nos EUA.

Por isso, as empresas podem arriscar o envio de anúncios com base no seu perfil. Assistiu a um programa sobre energia solar? Visita muito a oficina? Pode ser candidato à publicidade de um carro híbrido, enviada quando estiver próximo a uma concessionária.

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