sexta-feira, 14 de abril de 2006

Tempo de ficar triste

"O pessimista é uma pessoa que, podendo
escolher entre dois males, prefere ambos."
(Oscar Wilde)

A música ao fundo é com Billie Holliday, chama-se On the sentimetal side. É algo tranqüila, boa de ouvir. A voz da diva é suave como uma mulher de andar elegante e discreto. Escrevo meio devagar, teclando aos poucos, coisa incomum. Sou de redigir rápido, metralhando o teclado. Mas hoje é Sexta-feira Santa, antigamente conhecida como um dia grande, um dia santo.

Acho que é por isso que estou escrevendo devagar. Acho que é porque hoje é dia de ficar triste. Não aquela tristeza que sai da gente como algo que estava guardado e de repente aparece: espontâneo e forte, que dá até para notar. Mas tristeza como reflexão, atitude interna que requer silêncio só de você, mesmo que a seu lado estejam todos cumprindo o ritual diário da voz e do barulho.

Uma tristeza programada, metódica, que tem começo, meio e fim. Acho que hoje é dia de ficar triste porque há tantas dúvidas e são poucas as portas a se abrir; são tantas pessoas, cada uma com o seu passado, e muitos e incertos todos os futuros; são largos os rios e frágeis as poucas pontes; o pouco sem poder de enfrentar o muito; a fome sem poder encontrar um prato.

Acho que construímos um mundo estranho. Só para dar um exemplo, um mundo onde a publicidade intensa e enfática diz e diz que você precisa porque precisa de um telefone celular de marca tal, porque assim poderá falar tantos minutos,
ligar para-não-sei-onde, beber palavras dos outros, falar, falar, falar.

Na verdade, o que se oculta por trás de tanta fala é um silêncio denso e fútil; na verdade, não se fala: emitem-se sons supostamente inteligíveis, durante conversas que não levam a nada. Os celulares são a marca da convivência banal, a frivolidade eleita como estilo de vida.

Mas se hoje é dia de ficar triste, é também dia de saber que essa tristeza, como falei, programada e serena, é apenas um instante antes do próximo passo. Depois, de caso pensado, você volta e sabe que a vida continua. Afinal, se a noite é escura, é durante a noite que dormimos para, dia seguinte, tocarmos a vida em frente. Então, enfrente. E, dessa vez, nada de tristezas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Reflexão: tempo de ficar triste ,mas para um assenção ao novo, ao renascer; e o triste torna-se um novo dia, cheio de esperanças.

Anônimo disse...

corrigindo o anonimato: