Bolsonaro, o mito de Narciso e a dura derrota
Por Emanoel Barreto
A Folha de S. Paulo informa que Bolsonaro está
deprimido, pois afinal entendeu – embora não aceite –, que logo, logo, não mais
será presidente. Frente a tal situação, diz a Folha, passará três meses sem
envolvimento político, recolhido à mansão que seu partido, o PL, alugou para
ele em Brasília.
Mais: como presidente honorário do partido
terá salário e gabinete. Além disso, seus filhos que detêm mandato atuarão no
sentido de manter o pai em evidência e as redes sociais continuarão inundadas
de informes que louvarão o ex-presidente.
A questão a ser levantada é a seguinte: se
ele tem mesmo liderança, por que é preciso manter-se em Brasília, como se ainda
fosse figura central a decisiva no processo político nacional? Por que
necessita criar em torno de si efervescência, por que precisa causar para em
busca de manter vínculos comunicacionais com o eleitorado?
Em situação reversa, o presidente eleito, Lula,
ao término de seu último mandato foi para São Paulo, não teve qualquer sistema
de comunicação a seu favor, foi preso, espezinhado pela grande imprensa e, mesmo
assim, voltou. A verdadeira liderança, por ser autêntica, prescinde de
engenharia de comunicação a fim de manter-se em linha com essa entidade difusa
chamada povo.
A questão é que Bolsonaro, como é incapaz de
formular propostas político-administrativas relevantes, elaborar um projeto de nação,
estabelecer utopias, vale-se e trabalha a pequena política, aquela do
disse-me-disse, do não-sei-quem-é-ruim, Lula-não-presta, vamos defender a
família, o comunismo vem aí...
De tais atitudes de comunicação planejada
surgem comentários nas redes sociais e uma intensa troca de conversas que tem
por fundamentação mentiras e visões de mundo, limitadas e balizadas pelo mais
baixo e grotesco senso comum.
Isso é tão perigoso que resultou nos atos de
terrorismo em Brasília, quando pessoas partiram para o ataque à sede da Polícia
Federal e queimaram ônibus e automóveis. Então, o que se busca, e isso não é só
Bolsonaro, mas seu entorno, é criar um sujeito, um personagem identitário àquele
candidato baixo-clero que levou uma suposta facada e com isso logrou a eleição.
Estão tentando criar um Bolsonaro do pastiche
de si mesmo. Espelhamento de si mesmo feito por um ator político que, parece, começa a não mais existir
enquanto representação, símbolo de uma corrente de pensamento caótica, líder da mais
reacionária e grosseira direita deste país.
Como cambaleia na depressão – e isso é lamentável
e indesejável a qualquer pessoa – surge o aparato de comunicação e a encenação
de ficar morando em Brasília como se presidente fosse, mesmo que presidente
postiço, por honorário, do PL. O que se pretende é criar uma aparência, uma sensação,
a performance de que o mito está forte e intacto – “Bolsonaro ainda é Bolsonaro”,
quando, na verdade, tenta arremedar a si mesmo.
A História dirá, muito em breve, quais serão os
resultados da proposta desse narciso que busca se encontrar na imagem, na
aparência de si, e espera que seus seguidores acreditem que ainda é a mesma
pessoa política. O homem, claro, é o mesmo, mas o narciso, o simulacro que se
busca criar pode se perder frente à realidade desoladora que o quase
ex-presidente busca não ver: perdeu a eleição e nenhum sortilégio midiático poderá
inverter tal quadro.
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