Extremistas de Bolsonaro: inferno em Brasília
Os discursos de Lula e do ministro abordaram,
de maneira serena, mas firme, a importância da democracia para a convivência social
e para o progresso civilizatório, aspectos da vida societária que Bolsonaro e
seus sectários desprezam. Em ambos os pronunciamentos havia uma perceptível referência ao tempo de trevas e horror vividos sob o tacão da barbárie e do atraso que agora se acabam.
À noite, todavia, a luz que se viu em Brasília
veio da brutalidade do incêndio de carros e ônibus; labaredas eram a resposta
bolsonarista às palavras de sensatez e civilidade. Eles não reconhecem a derrota
nem a expulsão da bestialidade que até então vicejava nos esconsos do
Poder e se espraiava na destruição da natureza, na repulsa à ciência, no desmantelamento
da Universidade Brasileira, nos conluios contra a democracia e na mentira como
forma de tornar desejável um governo que, na verdade, mesmo em seus últimos arquejos,
é maligno e cruel.
A
desculpa para os atos insurrecionais foi a captura de um indígena identificado
José Acácio Serere Xavante, descrito no noticiário como incentivador de
violência e autor de ameaças às instituições democráticas.
Segundo Estado de S. Paulo, “o indígena
foi preso sob suspeita dos crimes de ameaça, perseguição e abolição violenta do
estado democrático de direito.”
Pastor protestante, diz o jornal, Acácio
tem forte liderança em sua área de atuação. Preso na sede da Polícia Federal,
aquela tornou-se alvo das ações bandoleiras, e os insurgentes tentaram invadir suas
dependências para dar fuga ao elemento. Foram repelidos pela PF e pela Polícia Militar
e se espalharam pela capital federal levando a todos terror, ódio e destruição,
transformando a noite em inferno.
A questão do bolsonarismo, cujo núcleo de
pensamento – se é que dessa gente se pode falar em pensamento enquanto
formulação intelectual analítica da sociedade – é binário e maniqueísta, portanto,
ordinário e vulgar.
Sua resposta a qualquer gesto ou crítica são considerados como ataque – e esses indivíduos tendem a ter sempre o
comportamento ataque/resposta –, eles partem literalmente para a briga ou pelo
menos para uma explosão de gritos e insultos. É típico.
Então, o que ocorreu em Brasília deu-se segundo o que se deveria esperar - suspeitar, quero dizer. O estranho é que os
serviços de inteligência das polícias não tenham previsto tais atitudes
criminosas e tomado precauções.
Quem observa os vídeos dos atentados
percebe como era fácil incendiar um carro ou ônibus. Eles atiravam artefatos sobre
os veículos e imediatamente as chamas se espalhavam. Ou seja: tudo estava
preparado. Por que os serviços de inteligência não sabiam desses atentados? Outra
coisa: pelo que vi em declarações do secretário de Segurança de Brasília ninguém
foi preso. Como pôde isso acontecer?
Ouvi claramente o secretário afirmar “todos
os identificados serão presos.” Mas veja: vão identificar como? Olhando vídeos
e saindo a esmo procurando anônimos, criminosos que agiam rapidamente e sumiam?
Por que não prendiam na hora? Muito estranho.
Mas, é isso, o bolsonarismo é produto
de uma subcultura política que precisa ser enfrentada dentro da lei, da serenidade
e do equilíbrio. Mas, mesmo assim, não podemos nos curvar aos extremistas. Nunca. Jamais.
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